Na sociedade digital em que vivemos e naquela que irá desenvolver-se nas próximas décadas, a familiaridade com as tecnologias digitais é uma condição essencial para o progresso e para a competitividade de qualquer nação e de qualquer economia.
No futuro, todas as empresas com dimensão serão digitais ou deixarão de existir. A globalização e a digitalização são duas tendências que conduzirão, inevitavelmente, à perda de competitividade de qualquer empresa sem visão digital do seu negócio.
Significa isso que, dentro de poucas décadas, todos os cidadãos, sem exceção, deverão não só ser minimamente familiares com a utilização de tecnologias digitais mas também ser capazes de ter ideias claras sobre o impacto destas tecnologias nas mais diversas áreas de negócio e atividade económica. Importa assim perguntar se o nosso país está preparado para esta transformação.
A resposta é que não está. Ao nível da escolaridade obrigatória o sistema não está, salvo raras e honrosas exceções, preparado para conferir as competências necessárias. As poucas disciplinas relacionadas com estas áreas, em geral, falham no mais importante: ensinar os jovens a pensar nas formas como as tecnologias digitais podem ajudar a resolver problemas concretos.
O pensamento computacional, a capacidade de perceber como é que computadores e telecomunicações podem ser usados para resolver os mais diversos desafios não é, simplesmente, um tópico do ensino básico.
Ao nível do ensino superior, a percentagem de jovens que escolhem áreas com forte componente tecnológica, especialmente em tecnologias de informação e comunicação, é insuficiente para as necessidades do país e não existem estímulos para os dirigir para estas áreas.
Este problema tornar-se-á ainda mais crítico por força da implosão demográfica a que temos assistido nas últimas décadas, cujas consequências devastadoras têm tido um profundo impacto no ensino básico e se estenderão, nos próximos anos, ao ensino superior, à saúde e à segurança social.
Cada nova iniciativa que traga para Portugal novas empresas da área digital, por mais positiva que pareça, contribuirá para uma escassez cada vez maior de recursos, um fenómeno que, com o passar do tempo, retirará credibilidade à ideia de que Portugal pode ser um polo de desenvolvimento de novas tecnologias. A importação de talentos é um mecanismo possível, mas também aqui as iniciativas têm sido poucas e ineficazes.
Ao nível dos cidadãos em geral, as iniciativas existentes, tais como o InCoDe 2030, têm os objetivos corretos e são importantes, mas estão a ser insuficientemente acarinhadas pelos diversos agentes na sociedade. É fundamental desenvolver mais, muito mais, as competências digitais da população, nos diversos vetores desta iniciativa: inclusão digital; educação para o digital; qualificação de recursos humanos; especialização do tecido empresarial; e investigação em novas tecnologias.
Se não mudarmos este estado de coisas arriscamo-nos a que Portugal, tendo perdido as três primeiras revoluções industriais, perca também uma oportunidade única de desempenhar um papel na próxima, a quarta, que será talvez a mais radical e profundamente transformadora de todas elas.