Unnon. A rede social que vai rebentar a bolha

Unnon
Rogério Simões (à esquerda) é CEO e cofundador da Unnon. É jornalista e ex-chefe do serviço brasileiro da BBC em Londres. Eduardo Malpeli (à direita), fundador e COO da rede social, é responsável pela parte técnica.

Tese de mestrado deu origem a uma rival do Facebook que promete quebrar todas as regras. Conheça a Unnon e o que vai poder fazer nesta nova rede social.

Cinquenta desconhecidos entram numa sala. Não falam a mesma língua mas todos se percebem. Deixaram para trás os amigos e a família, alguns colegas de trabalho e uns quantos do tempo da escola primária. Vêm em busca da adrenalina que Mark Zuckerberg em tempos lhes prometeu mas que, milhares de likes depois, se perdeu nos algoritmos.

Foi por ter sentido essa letargia no Facebook que Rogério Simões começou a pensar na Unnon. A nova rede social que junta desconhecidos de todo o mundo nasceu a partir da tese de mestrado que o jornalista brasileiro fez na Universidade de Westminster, em Londres, em 2015.

“A Unnon surgiu da identificação de um problema que, ultimamente, as pessoas começaram a levar a sério”, conta o fundador à Insider. “Nas redes sociais tradicionais os utilizadores ficam presos numa espécie de bolha. Só veem conteúdos filtrados pelos algoritmos que confirmam os seus gostos, opiniões e ideias. Se alguém é de esquerda, vai ver conteúdo ligado à esquerda. Se é de direita, a mesma coisa. Os amigos, familiares e conhecidos tendem a pensar de forma parecida com a nossa. E as pessoas habituaram-se de tal forma a isso que quando um amigo demonstra um pensamento oposto, a ligação é logo cortada”, explica Rogério Simões.

Em 2016, o jornalista, que foi chefe do serviço brasileiro da BBC em Londres, juntou-se ao colega Eduardo Malpeli para tentar “rebentar a bolha”. Na Unnon “o utilizador está sempre a interagir com gente nova”, algo que “nunca foi feito antes”.

A premissa é simples: a rede social funciona através de um sistema de conexões temporárias. Após fazer o registo, o utilizador é colocado num space aleatório, juntamente com outras 50 pessoas. Ao fim de 30 dias, o sistema baralha e volta a dar. Ou seja, o utilizador é colocado num novo space, com 50 pessoas novas. “Se gostar de alguém, temos um botão que permite levar essa pessoa para o seu Facebook. Mas a ideia é renovar sempre a rede”, diz Rogério, ressalvando que a Unnon “não é uma aplicação para encontros amorosos”.

Unnon Spaces
Imagem que mostra como será a aplicação da Unnon, que tem lançamento previsto para agosto.

A timeline da Unnon não é muito diferente das que já conhecemos. Permite partilhar fotografias, vídeos, ideias, fazer comentários e reagir com emojis. A rede social tem ainda uma área de chat, e é aqui que as regras do jogo mudam.

“Como é um ambiente em que se interage com desconhecidos, decidimos que a plataforma será completamente aberta. Não há áreas privadas. Se queres falar com outra pessoa num chat, os outros utilizadores não podem participar mas podem ler. Assim tornámos o ambiente da Unnon mais seguro e civilizado”, afirma Rogério Simões.

E como é que se juntam os Unnon de todo o mundo a falar línguas diferentes? “O sistema faz tradução automática. Um utilizador do Japão pode escrever no seu idioma porque em Portugal será lido em português.”

Em novembro do ano passado, a Unnon foi atirada às feras das redes pela primeira vez. Durante seis semanas, a aplicação esteve disponível para download na Apple Store. “Foi muito bem recebida e elogiada”, garante o fundador. Inclusive em Portugal.

Na Unnon os utilizadores “estão sempre a interagir com gente nova”, através de um sistema de conexões temporárias que dura 30 dias. Os fundadores da rede social esperam conquistar 50 milhões de fãs em três anos.

A Web Summit foi o palco escolhido por Rogério e Eduardo para testar in loco o poder da próxima rival do Facebook. No Pavilhão de Portugal, confirmaram que são os millennials a faixa mais desiludida com a rede de Zuckerberg. “Não queremos substituir o Facebook ou o Snapchat. Vamos complementar o mercado, que está mais forte do que nunca. É verdade que o Facebook está a ser posto em causa devido a algumas deficiências, mas a rede social enquanto ferramenta ainda oferece um mundo de possibilidades.”

Eduardo (à esquerda) e Rogério (à direita) fizeram um primeiro teste à Unnon na edição de 2017 do Web Summit.

Rogério e Eduardo, que criaram a Unnon com dinheiro do próprio bolso, estão agora a abrir o capital a investidores. No primeiro ano esperam encaixar 1,7 milhões de euros. Ao fim de três, as receitas já deverão rondar os 117 milhões. E aqui os fundadores esperam rebentar outra bolha.

A Unnon não vai seguir o “invasivo, incómodo e cada vez menos eficiente” modelo de publicidade tradicional. “Ter uma conta básica será grátis. Mas por um valor que rondará os dez euros o utilizador vai receber um passe, que permite estar em vários spaces ao mesmo tempo. Já para as marcas teremos o Unnon Pro, que custará cerca de 90 euros por mês. O space da empresa terá mais ferramentas e mais destaque na plataforma. Mas nunca em forma de anúncio”, conclui Rogério.

A Unnon deverá ficar disponível para iPhone e web em agosto, e para Android no final do ano. Mas as metas dos fundadores estão traçadas: a expectativa “realista” aponta para 2,5 milhões de utilizadores ao fim de um ano, 25 milhões no ano seguinte e uma comunidade de 50 milhões de Unnon, prontos a rebentar a bolha, até 2022.

Este artigo faz parte da edição de julho de 2018 da revista DN Insider

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