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Pode um espetáculo por Zoom em tempos de pandemia ter sucesso? Mágico português está a surpreender a América com The Present, uma performance de magia feita a partir de sua casa que já maravilhou JJ Abrams e várias celebridades de Hollywood e conquista os críticos de New York Times e companhia.

(Por cima pode ver o vídeo resumido da entrevista que está em formato completo aqui).

É um dos mágicos mais respeitados e premiados a nível mundial e os seus espetáculos há já vários anos são acompanhados com atenção por alguns dos maiores atores e realizadores do mundo de Hollywood. Helder Guimarães vive e brilha nos Estados Unidos desde 2012, já fez espetáculos em Los Angeles – onde vive – e na chamada off-Broadway até foi um dos dois portugueses (o outro foi António Damásio) que participou no principal evento anual das TED Talks.

Agora, já em 2020 e em pleno confinamento devido à pandemia do novo coronavírus, criou um espetáculo pensado para o período de isolamento que vivemos não só na história e magia que tem, mas também na forma como é experienciado.

Chama-se The Present estreou a 7 de maio e foi criado para a Geffen Playhouse, em Los Angeles, num formato ‘online’, ao vivo a partir da sua casa e com direção artística do realizador e produtor Frank Marshall – um dos responsáveis por Indiana Jones, Parque Jurássico e companhia.

Em vez de uma sala, o público está nas suas casas e vê (e participa) através da plataforma de videoconferências Zoom. O espetáculo permite ser visto por 25 domicílios – acabam por ser mais pessoas, já que cada casa pode ter vários a assistir. Os participantes, eles próprios, participam na magia e vêm muitas das surpresas acontecer na sua própria casa e nas suas próprias mãos. A ajudar está uma caixa de Helder envia por correio aos participantes onde, entre outros objetos, está um baralho de cartas.

O experiente mágico explica-nos, no vídeo em cima, como é possível conseguir “ter sucesso a surpreender o público mesmo por videoconferência”. Depois de algumas performances já feitas – são duas por dia, com descanso há segunda-feira, e mais alguns espetáculos privados -, Helder admite-nos que esta será uma solução que poderá manter como alternativa no futuro, mesmo quando as salas começarem a voltar ao normal.

O mágico português que adora misturar ilusão, humor e alguma filosofia nos seus espetáculos explica que teve de mudar o cenário habitual, para um formato mais pequeno já que usou a sua própria casa em vez da sala. “Os técnicos do Geffen Playhouse [um espaço icónico de peças de teatro em Los Angeles e que são os organizadores] montaram tudo com alguma segurança e prepararam tudo de forma a que não precisassem de voltar cá para cada performance”, diz-nos Helder.

A ideia para o espetáculo surgiu do próprio período de isolamento. Aos 11 anos Helder foi atropelado, teve um ataque epilético e teve de ficar isolado em casa durante um mês (foi assim que ficou mais próximo do seu avô). Daí começou a montar “em tempo recorde” a história e as ilusões, com a ajuda do experiente Frank Marshall, com quem já tinha trabalhado noutros espetáculos e que estava com tempo até porque a produção do próximo Mundo Jurássico foi cancelada.

É a namorada de Helder que filma todos os espetáculos e, o que estava previsto ser performance para durar um mês já foi estendido até agosto. Os bilhetes esgotaram em alguns minutos no site do Geffen, custam a partir de 80 dólares e cada ingresso inclui a tal caixa. Para já, até por questões relacionadas com os correios, o espetáculo é só para os EUA, mas o facto de ser em modo virtual permite internacionalizar de forma mais fácil e esse é um dos objetivos para os próximos tempos – Portugal incluído. Isso e poder gravar algumas sessões para posterior publicação, embora Helder explique que se perde algo “por não haver nos vídeos o elemento de interatividade”.

Helder Guimarães (DR)
Helder Guimarães
(DR)

Na versão mais longa da entrevista, o mágico português admite que já recusou ter o seu próprio programa televisivo nos EUA por não sentir que fossem as propostas certas, com o controlo criativo adequado. Além disso vê a possibilidade de fazer algo para a Netflix com bons olhos.

A ideia de fazer um espetáculo interativo por Zoom é pioneira e Helder acredita que os espetáculos, nomeadamente no teatro ou na magia, “se devem reinventar nos próximos tempos” já que esse pode ser “um modelo de negócio”, mesmo que sinta falta “da interação do público numa sala”.

Críticas ‘mágicas’ dos principais jornais nos EUA

As críticas que tem recebido nos EUA, nomeadamente em Los Angeles, são verdadeiramente promissoras para o talento português. Helder Guimarães está habituado a elogios da imprensa até noutros espetáculos seus, do New York Times ao Los Angeles Times. Apesar da originalidade de um espetáculo virtual, The Present não foi exceção. Reproduzimos algumas das palavras de críticos conceituados nos EUA sobre o novo espetáculo:

Los Angeles Times

“Guimarães é um mágico com que Jorge Luis Borges poderia ter sonhado. Um contador de histórias com ar filosófico e um sotaque de onde não conseguimos localizar” ; “É o mais próximo que estive de uma sala de teatro desde que a pandemia fechou tudo” ; “The Present tem o seu mais potente encanto ao transformar o estranho em familiar (…) Mesmo a ver sozinho pelo Zoom, eu estava novamente junto com a minha tribo, grato por estar ligado aos encantos”.

The New York Times

“O que sei é que depois da meia noite, no meu portátil, Guimarães ia virando uma cartas com nomes, primeiro uma, depois outra, depois outra, até que cada janela [da videoconferência] mostrava um ou mais espectadores coletivamente a perderem a cabeça com o som em mute. Não sei como ele conseguiu. E pela primeira vez em muito tempo, não saber algo [referência à incerteza da pandemia] soube muito bem”.

The Washington Post

“Este espetáculo de magia por Zoom entrega uma caixa em casa. Depois explode a nossa mente”

“O espetáculo de magia ao vivo por Zoom dura uma hora e 10 minutos, mas a sua capacidade para juntar encantos parece infinita. Não faço ideia como Helder Guimarães, o português virtuoso das cartas que concebeu esta produção digital sensacional para o Geffen Playhouve, consegue fazer o que faz. E espero nunca saber”.

Variety

“Os ilusionistas são famosos por desviar a nossa atenção, distraindo-nos com uma mão enquanto a outra executa o truque. Olhando bem pelo ecrã, temos uma visão clara e bem iluminada das mãos de Guimarães o tempo todo. Mas ele ainda assim consegue-nos surpreender, concentrando a nossa atenção na magia enquanto o centro emocional do espetáculo – histórias de esperança na infância e de conexão humana servem para unir o público – se vai aproximando de nós. Talvez a magia possa derrotar o covid, afinal.”

Um português à conquista da América

Helder Guimarães ganhou uma dimensão de estrelado nos Estados Unidos com espetáculos de magia que incluem comédia e storytelling. Não só tem como fãs do seu trabalho personalidades do meio artístico de Hollywood como JJ Abrams (com quem já falou várias vezes e que já lhe ligou a dar os parabéns pelo novo espetáculo por Zoom), Barbra Streisand, Jack Black ou Steve Martin, como já teve o ator e produtor Neil Patrick Harris a dirigir alguns dos seus espetáculos, bem como o realizador de Parque Jurássico e Indiana Jones, Frank Marshall.

Um currículo impressionante a que o portuense de 37 anos, Helder, junta dois dos chamados óscares da magia em 2012 e 2013 – foi o primeiro mágico a vender dois Parlor Magician of the Year e também conta com um prémio Ascanio.

Desde bebé que o pai lhe incutiu a paixão da magia e das cartas e aos 12 já participava em competições de magia. Já foi consultor em produções da NBC, Disney e Warner – sobre várias não pode falar por ter assinado acordos de exclusividade. E em 2018 deu ‘lições’ de magia a Cate Blanchett e Sandra Bullock para as preparar para o filme Ocean’s 8.

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