A Salsify escolheu a cidade de Lisboa para o seu primeiro escritório fora dos Estados Unidos. A empresa, que é detentora de uma plataforma virada para o mundo do comércio eletrónico, quer contratar 25 pessoas ao longo dos próximos meses.
O principal produto da empresa norte-americana é uma plataforma de PMX (product experience management). Há seis anos, quando nasceu, a Salsify tinha um objetivo: ajudar as marcas a ser bem-sucedidas no mercado digital. Focada em grandes marcas internacionais, a Salsify permite ter uma visão integrada de todos os momentos da experiência digital de comércio online. Vender em lojas como a Amazon ou o Walmart não é a mesma coisa: cada uma destas lojas dá importância a diferentes aspetos de um produto – há quem dê maior valor à descrição, outras à imagem do produto e há quem coloque mais ou menos especificações.
E, para os fabricantes, pode ser cansativo e exigente conseguir cumprir com todas as diferenças de critérios das lojas online, garantindo que é entregue ao cliente a melhor experiência possível – e, consequentemente, haja otimização das receitas. Por isso, a Salsify permite que os clientes coloquem toda a informação sobre um produto na plataforma e dá indicações de como é possível otimizar a venda de um produto em cada uma das lojas, através de uma forte componente visual. Tudo isto com uma visão em tempo real de como correm as vendas em cada loja online, tirando também partido das capacidades da analítica. Na carteira de clientes, a Salsify conta com empresas como a Coca-Cola, Mars, SC Johnson, a Bosch ou o L’Oréal Group.
Jeremy Redburn, co-fundador e vice-presidente executivo de produto da Salsify já se mudou para Lisboa, para se concentrar na tarefa de desenvolver o escritório internacional. O desafio é aliciante, já que o responsável afirma ter vontade de criar um escritório “que reflita a cultura empresarial” que existe em Boston – local onde a empresa está sediada, com um escritório com mais de 5 mil metros quadrados e 250 pessoas na empresa.
O segundo escritório da Salsify vai focar-se em questões de apoio aos clientes. “Essa foi a grande motivação para virmos para aqui, nem tanto a questão de procurar mais clientes europeus”, explica Jeremy Redburn. “Já temos alguns dos melhores clientes europeus, não é como se viéssemos à procura de mais. Sentíamos que estávamos, de alguma forma, ‘desconectados’ desses clientes, queríamos ter uma presença mais forte para essas empresas, porque há demasiados desafios”.
Em fevereiro e março deste ano, decidiram levar a demanda a sério e começaram à procura de opções na Europa, para a criação de um segundo quartel-general. Entre risos, reconhecem que “nenhum dos fundadores esperava que a escolha fosse Lisboa”, quando começaram o processo.
Ainda antes de se decidirem pela capital portuguesa, Jeremy Redburn e Rob Gonzalez, co-fundador da Salsify, explicam que ponderaram também algumas cidades na Irlanda (“a escolha que parecia mais óbvia”), ou Amesterdão, na Holanda. A localização dos clientes não foi um fator decisivo na escolha do novo escritório, reconhecem, explicando que “não havia uma cidade onde estivessem os clientes da Salsify, estão espalhados por vários pontos da Europa”, ainda por cima num negócio fortemente digital. Mais decisivo foi outro factor: as ligações aéreas. “Tivemos como critério de escolha uma localização que oferecesse um voo direto para Boston”, explica Rob, que, na altura desta conversa com os jornalistas, prometia ficar em Lisboa durante mais algumas semanas.
“Nos Estados Unidos, Lisboa não tem a mesma reputação a nível tecnológico”, apontam os fundadores da Salsify. “Não encontrámos uma empresa tecnológica americana que tivesse vindo abrir um grande escritório em Lisboa. Há a Google ou a Amazon a vir para cá, mas eles já têm vários escritórios”, explica Jeremy. Reconhecem que a comunidade tecnológica é pequena, mas que foram bem recebidos, destacando entidades como a Beta-i ou a startup portuguesa Unbabel, com quem partilham um investidor. “Ouvimos as melhores coisas sobre o talento e as pessoas em Portugal”. “Vimos maior vantagem e potencial no ecossistema de Lisboa do que vimos na Irlanda ou em Amesterdão, ou em qualquer outro ponto na Europa”.
“Ficaríamos muito contentes se daqui a cinco anos, olhássemos para trás, Lisboa fosse maior do que já é e que percebêssemos que tivemos um pequeno papel nisso” apontam os fundadores da Salsify.
A Salsify pretende contratar 25 colaboradores ao longo dos próximos 12 meses, para funções ligadas ao apoio a cliente e engenharia (customer support engineer ou full-stack software engineer, por exemplo). De momento, ficam excluídas da equação funções ligadas a vendas e marketing, referem os representantes da Salsify.
Por enquanto, o objetivo passa pelo crescimento e expansão, com os fundadores a não descartarem a hipótese de “abrir um escritório na Ásia nos próximos dois anos”. Dizem estar a recrutar “ativamente”, para compor a equipa que, por enquanto, trabalha no espaço de coworking IDEIAhub, no Palácio Sotto Mayor. “Queremos mudar-nos dentro de quarto a seis meses, os espaços de cowork nem sempre são bons para a cultura de empresa”, explica Jeremy Redburn.