Comitivas portuguesas estiveram em Israel para captar investimento para o país, mas também para aprender sobre áreas mais específicas. Cibersegurança foi um dos temas em destaque.
Portugal é um país com talento e um grande potencial na área da segurança informática – basta recordar que um dos hackers mais valiosos do momento é português e que há investigadores a participarem em programas de grandes empresas como a Samsung. O reconhecimento deste valor agora também é feito pelo Governo.
A secretária de Estado da Indústria, Ana Lehmann, definiu a cibersegurança como uma das três áreas de grande interesse para o seu gabinete, em conjunto com as inovações do sector financeiro (fintech) e o blockchain. Neste sentido, foram criados grupos de trabalho focados nestes temas, revelou.
“Portugal está a atrair investidores em cibersegurança. Também tem empresas fantásticas em cibersegurança, investidores internacionais, startups e investidores nacionais a fazerem aquisições. A cibersegurança interessa-nos muito”, disse em declarações à Insider/Dinheiro Vivo, durante o evento DLD Tel Aviv, que decorreu a semana passada.
Israel é, já há vários anos, um dos principais centros de desenvolvimento e investimento em soluções de segurança informática. Segundo valores adiantados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do país, 12% dos investimentos globais em cibersegurança foram feitos em empresas israelitas.
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Ana Lehmann participou, por exemplo, num evento totalmente focado na temática da cibersegurança, “vista como um elemento imprescindível para a sustentabilidade e segurança das empresas, mas também como negócio”, salientou.
“Nós quer no tema da blockchain, quer o da cibersegurança, quer agora na inteligência artificial, eu e pessoas do meu gabinete temos ido a grandes reuniões na União Europeia sobre essas temáticas”, acrescentou Ana Lehmann.
Quem também passou por Tel Aviv e esteve muito atenta ao tema da cibersegurança foi a diretora do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), Clara Gonçalves.
“Andamos muito focados em trabalhar áreas da cibersegurança e temos trabalhado ativamente, somos um centro de competência muito grande dentro da Universidade do Porto na área da cibersegurança”.
“Temos que perceber que há áreas que são transversais e a área da cibersegurança para além de ser uma tendência, é uma necessidade”, defendeu.
A responsável pelo UPTEC lembra que “a própria Europa está a posicionar-se, criou agora três centros de competência que vão trabalhar o modelo do futuro centro de competências que a Europa vai ter na área da cibersegurança”. “Nós estamos altamente envolvidos nessa dinâmica, aliás, ganhámos um dos centros de competência, em consórcio naturalmente. Temos alunos, temos competência dentro da universidade e temos muito poucas startups”, acrescentou Clara Gonçalves.
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A diretora deu depois o exemplo de André Batista, o jovem português que em março foi considerado como o hacker mais valioso pela plataforma HackerOne, sobre a importância de reter talento no sector da segurança informática.
“O André não quis ir para fora, diz a toda a gente que não quer ir para fora, quer adicionar valor em Portugal. Vamos ver quanto tempo é que ele aguenta, mas espero que aguente. Pelo menos que aguente o doutoramento e alguma coisa que mude em Portugal, porque não faz sentido um aluno destes ganhar 980 euros por mês, não faz sentido”, criticou.
Na área da segurança informática, Clara Gonçalves diz que em Portugal falta promover a vertente de negócio. “As competências que nós do lado de cá, técnicos, temos para poder apoiar modelos de negócio ou futuros modelos de negócio e olhar para a cibersegurança com um maior grau de eficácia de conhecimento de mercado”.
* O jornalista viajou a convite da Embaixada de Israel em Portugal