A Netflix chegou a ponderar não renovar os 236 episódios da série Friends, mas decidiu pagar 100 milhões de dólares só para os fãs continuarem a ter acesso, em 2019, às 10 temporadas da série que acabou há quase 15 anos. Diz-se que esse pode ser o principal motivo para a subida do preço na subscrição.
O que é que a série Friends tem? É uma típica sitcom, simples, com menos de meia hora por episódio, onde a amizade e o humor são o ‘pão nosso’ em cada um dos 236 episódios durante 10 bem sucedidas temporadas. A aventura nova-iorquina começou em 1994 e terminou em 2004.
O estilo é típico dos anos 1990, simples, gravado quase sempre em estúdio e com público a aplaudir (tal como noutro sucesso da época, Seinfeld), bem diferente do que reina a nível de séries hoje em dia, onde há um maior investimento em produção e um estilo mais cinematográfico nas séries. Existem inúmeros registos do impacto cultural a nível global da série na altura. Em Portugal, o exemplo mais conhecido foi o facto do grupo humorístico Gato Fedorento ter escolhido esse nome, inspirado na música Smelly Cat, da personagem Phoebe, da série Friends.
No final do ano passado, surgiram rumores que a Netflix ponderou não renovar a série que começou a emitir na sua plataforma, em streaming, em 2015. Na altura, a Netflix pagou 120 milhões de dólares para ter as 10 temporadas da série Friends. O contrato chegava ao fim no final de 2018 e o serviço de streaming ponderou não renovar, para apostar ainda mais em conteúdos novos e próprios. Mas a perspetiva de perder os 236 episódios da série levou a uma pequena onda de contestação de alguns dos 140 milhões de subscritores da Netflix.
Associado a isso, a Netflix também estaria a ter registos de visualização surpreendentes para a série com quase 15 anos. Resultado? A meio de dezembro Randall Stephenson, executivo-chefe da AT&T, que detém os direitos da saga Friends (através da compra da Time Warner), assegurou aos investidores que a série iria ficar na Netflix por mais um ano. A gigante do streaming paga, assim, 100 milhões de dólares (88 milhões de euros), o equivalente a cerca 400 mil dólares por cada episódio da série que foi para o ar originalmente entre 1994 e 2004. De acordo com alguns rumores noticiados por meios de comunicação norte-americanos, a continuação da dispendiosa série Friends na plataforma terá sido um dos motivos para a Netflix ter aumentado, no início deste mês, o valor da subscrição para os seus utilizadores, para já, apenas nos EUA.
Ou seja, a Netflix há quatro anos que investe anualmente mais nos direitos de uma série antiga, do que para produzir e distribuir a esmagadora maioria das suas séries e filmes originais. Curiosamente, uma das séries mais bem sucedidas e caras da plataforma, Stranger Things, custa bem menos a produzir (72 milhões de dólares por temporada) do que disponibilizar um ano de Friends.
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Em 2019 espera-se que surjam mais serviços de streaming da Disney, Apple e AT&T (Turner). Estima-se que o investimento em conteúdos (na maioria novas séries) da Disney e da AT&T supere mesmo os 150 mil milhões de dólares (a Netflix tem gasto cerca de seis mil milhões por ano). Enquanto os canais tradicionais de televisão por cabo têm perdido clientes nos EUA em 2018 (só a AT&T terá perdido 300 mil clientes no último trimestre de 2018), a Netflix teve em 2018 o seu melhor ano, crescendo 80 mil subscritores por dia.
Milhões para todos
A última temporada de Friends foi a mais cara de sempre (com episódios com menos de 30 minutos) da história da televisão. A NBC teve de pagar 180 milhões de dólares, muito graças ao valor recorde pago aos seus seis protagonistas, para poder emitir os 18 episódios da 10ª temporada.
Mais de uma década depois, o valor da série recordista só tem vindo a aumentar ao ponto do seu elenco, Jennifer Aniston, Courteney Cox, Lisa Kudrow, Matt LeBlanc, Matthew Perry e David Schwimmer, continua a receber uma média de 20 milhões de dólares por ano pela série. As receitas globais da série, ainda transmitida em vários países do mundo, rende à Warner Brothers (agora à AT&T), todos os anos, mais de mil milhões de dólares.
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