Longe vão os tempos em que cada unidade do Bitcoin valia perto de 20 mil dólares. Criptomoeda perdeu grande parte do seu valor e arrastou o restante mercado.
Depois da euforia no final de 2017, a primeira metade de 2018 tem sido ‘negra’ para as criptomoedas: o mercado, como um todo, perdeu mais de metade do valor que tinha no início de janeiro.
Segundo a plataforma CoinMarketCap, que regista o valor de mais de 1.600 divisas digitais, no dia 1 de janeiro o mercado das criptomoedas e tokens valia 612,9 mil milhões de dólares, o equivalente a 523,9 mil milhões de euros. Meio ano depois, a 30 de junho, o valor total estava situado nos 247,8 mil milhões de dólares, cerca de 211,7 mil milhões de euros.
Muito deste mau desempenho está diretamemente ligado às cinco principais divisas digitais – Bitcoin, Ethereum, Ripple, Bitcoin Cash e Litecoin. Ainda assim, a perda de valor foi mais notória numas, do que noutras. Na infografia em baixo pode ver o desempenho das diferentes divisas nos últimos seis meses.
O presidente da Associação Portuguesa de Blockchain e Criptomoedas, Fred Antunes, explica em entrevista à Insider que “tinha de haver naturalmente uma correção” porque a subida no final de 2017 “foi muito grande”.
“Se comparar com os nove anos e meio de existência da Bitcoin, rapidamente consegue encontrar padrões exatamente com o mesmo tipo de oscilações”, acrescentou. Isto acontece, diz Fred Antunes, por ser um “ecossistema muito próprio e com um conjunto de características que não se compara com os mercados tradicionais”.
Uma questão de perspetiva
É inegável que a primeira metade do ano foi desastrosa para os detentores de divisas digitais, mas se a análise for mais abrangente, então o cenário não é tão negativo. Recuando um ano no calendário para o dia 30 de junho de 2017, cada unidade do Bitcoin valia nessa altura perto de 2.500 dólares, cerca de 2.135 euros.
Ou seja, neste termo de comparação, aquela que é a moeda que representa mais de 40% do valor total do mercado até está em crescimento.
Fred Antunes aponta dois grandes factores para o declínio acentuado das divisas digitais registado em 2018. O primeiro são os futuros de Bitcoin – um sistema no qual há um acordo sobre o preço e a data de venda de um determinado ativo.
“A primeira é a questão dos futuros do Bitcoin terem sido lançados, penso que isso não tem sido positivo para a criptoeconomia. A sustentabilidade do sistema acaba por estar muito condicionada pelas datas em que terminam os contratos de futuros”, comenta o líder da APBC.
No início de maio, a reserva federal de São Francisco, nos EUA, lançou um relatório no qual dizia haver uma ligação direta entre o lançamento dos futuros de Bitcoin e a quebra acentuada registada nos meses seguintes.
O segundo grande problema para Fred Antunes chama-se Tether, atualmente a décima divisa digital mais valiosa. “O Tether teve uma série de notícias [polémicas] que deixam, naturalmente, os investidores um pouco mais receosos e isso faz com que exista uma quebra de venda”.
Questionado sobre se as iniciativas de regulação que têm surgido em diferentes países tiveram algum peso no grande declínio do primeiro semestre, Fred Antunes considera que esse não é o motivo. “Se o mercado não caiu mais do que caiu até agora, foi exatamente porque as notícias [de regulação] são favoráveis”.
A partir do momento em que há países ‘amigáveis’ para as divisas digitais, como a Estónia e Malta, torna-se mais difícil para outros países terem uma atitude mais conservadora, defende o porta-voz da APBC. “Qualquer outro país europeu que decida tomar medidas mais conservadoras irá perder competitividade”.
Novo alerta em Portugal
Mas as pessoas ainda não estão totalmente preparadas para este novo fenómeno. Quem o diz são os supervisores portugueses – Banco de Portugal, Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões – que voltaram a fazer um alerta sobre as “moedas virtuais”.
“As autoridades de supervisão do sistema financeiro estão preocupadas com o facto de um grande número de consumidores adquirirem ‘moedas virtuais’ na expectativa de que o seu valor continue a crescer sem estarem cientes dos riscos envolvidos”, pode ler-se na nota publicada online.