Antiga diretora de desenvolvimento de negócio da Cambridge Analytica reforça que é importante “regular as big tech” e “policiar discurso político”.
O tema era quente e motivou respostas efusivas no palco principal da Web Summit: será Donald Trump re-eleito nas eleições de 2020? Numa conversa que contou com a presença de Brittany Kaiser, uma das delatoras do caso Cambridge Analytica, Joe Pounder, do Bullpen Strategy Group e Neal Katyal, advogado norte-americano, tanto foi feito um exercício de memória para perceber aquilo que aconteceu em 2016 como aquilo que ainda está por vir no mapa das presidenciais norte-americanas.
O pontapé de saída foi dado por Neal Katyal, autor do livro Impeach: The Case Against Donald Trump: o atual Presidente dos Estados Unidos não estará no final da corrida. “Não acho que Trump esteja no boletim de voto em 2020, acho que vai ser alvo de impeachment antes”. A afirmação foi recebida com palmas, para logo a seguir Katyal voltar à carga: “É um Presidente que é fundamentalmente não americano, que pega nos nossos valores e que os rasga”.
Questionada sobre a evolução da máquina de campanha de Donald Trump, Brittany Kaiser é sucinta. “Acho que em 2016 a operação já era bastante profissionalizada, foram criados modelos muito precisos para quem podia ser alvo de mensagens que poderiam mudar os votos”. Logo a seguir, lança uma farpa ao fundador e CEO do Facebook: “Mark Zuckerberg está a ajudá-los a fazer isto”. Qual é o remédio para Kaiser? “Regular as big tech e policiar o discurso político”.
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Atualmente, o assunto dos anúncios políticos nas redes sociais já lançou um sério debate nos Estados Unidos – tanto que Mark Zuckerberg já foi questionado pelo Congresso norte-americano relativamente ao escrutínio feito às mensagens de campanhas políticas nos produtos do Facebook. Na semana passada, a tomada de posição do Twitter de remover anúncios políticos da plataforma serviu de combustível para mais discussão.
Para Kaiser, não basta só pedir aos eleitores que tomem uma decisão. “Acho que já há muitas pessoas decididas, os democratas já decidiram e os swinging voters [eleitores de estados sem voto tradicionalmente definido] também já decidiram que vão votar nos democratas, porque odeiam o Trump – mas há muitas pessoas que ainda não decidiram se vão votar ou não”.
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“Se a campanha de Donald Trump conseguir manter-nos em casa, sim, Trump vai ganhar em 2020”, afirma Kaiser. Pounder concorda com a afirmação de Kaiser. “Vai ser uma batalha levar as pessoas mais desmotivadas a votar.”
“A maior falácia para os democratas em 2016 foi pensar que Hillary Clinton ganharia a corrida facilmente”, recorda Kaiser. Tanto Joe Pounder como Neal Katyal recordam que Hillary Clinton poderia ter visitado estados decisivos como a Pensilvânia, Carolina do Norte ou o Ohio, onde determinados temas podem ser decisivos para os candidatos presidenciais. “Qual é a coisa mais importante que o candidato democrata pode fazer para a agarrar os tendencialmente democratas?”, questiona o moderador, Tim Alberta, do Politico. Para Katyal, duro crítico de Donald Trump, a resposta é simples: “Lembrar o registo de Donald Trump”.
Ainda antes de deixarem as previsões para a campanha de 2020, Kaiser deixa o aviso, em jeito de conselho: “qualquer pessoa que seja o candidato democrata precisa de estar preparado para a campanha do “crooked Hillary” porque isso vai acontecer de novo”.
Para Neal Katyal, Donald Trump não chegará ao boletim de voto. Para Brittany Kaiser, a campanha de Trump também não resultará em vitória. Já Joe Pounder acredita na re-eleição do milionário norte-americano.