Portugal deu recentemente um primeiro passo na computação quântica e que pode ser importante para reter os jovens ‘cérebros’.
Há uma nova revolução no horizonte. Está a chegar de forma lenta, mas já é visível. Muitos acreditam que a computação quântica tem o poder para começar uma nova vaga tecnológica que será caracterizada por uma maior capacidade de processamento de informação em períodos de tempo muito, muito mais reduzidos.
Há cálculos que os computadores clássicos, mesmo os de grande escala, podem demorar séculos a fazer, mas que para um computador quântico podem ser uma tarefa de apenas algumas horas.
Isto acontece porque num computador tradicional a informação é processada em 0 e 1, já num computador quântico a informação pode ser 0 e 1 ao mesmo tempo, o que aumenta de forma exponencial a capacidade de processamento. Graças a esta característica, os computadores quânticos processam a informação em bits quânticos (qubits) em vez dos tradicionais bits.
Portugal deu recentemente um primeiro passo ‘gigante’ na área da computação quântica. O consórcio português QuantaLab, liderado pela Universidade do Minho e composto por mais três entidades, faz agora parte daquela que é a maior rede internacional de computação quântica, a IBM Q Network.
Noam Zakay, líder europeu de negócio da IBM Q Network, considera a aposta do QuantaLab como de grande importância para o país. “A computação quântica vai ser importante para as empresas e a ciência em Portugal”, disse o especialista à Insider, em resposta enviada por email.
“O QuantaLab está a dar um passo significativo ao alargar o acesso à computação quântica – contribuindo ainda mais para uma comunidade global dedicada aos avanços da computação quântica e a explorar aplicações práticas para as empresas e para a ciência”, acrescentou.
Em entrevista ao Dinheiro Vivo, o professor Luís Soares Barbosa, do departamento de informática da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (UM), já tinha explicado como esta parceria pode ter efeitos imediatos na retenção de talento.
“Muitos jovens qualificados que estão a trabalhar em ciências da computação, em física e matemática, encontram aqui um domínio de investigação, de investigação aplicada e mesmo de desenvolvimento que, mais tarde, poderá ser muito relevante”.
A questão do talento também foi um aspeto sublinhado pelo especialista da IBM. Noam Zakay acredita que dentro de alguns anos “aprender computação quântica pode tornar-se num pré-requisito para programas de ciência e engenharia em todo o mundo, tal como o código básico já é atualmente”.
A contribuição portuguesa
As primeiras experiências do QuantaLab com o computador quântico da IBM vão arrancar em setembro e há uma área na qual o consórcio português vai ser preponderante, segundo Noam Zakay.
“Uma área na qual o QuantaLab está a trabalhar é como os computadores quânticos podem ser usados para fazer simulações e testes nas áreas da matéria física condensada, ciência dos materiais, otimização de processos e cibersegurança”.
Por agora todos estes avanços funcionam como testes, pois os desenvolvimentos práticos com um impacto direto na vida das pessoas ainda vão demorar a chegar.
“Acreditamos que dentro de cinco anos vão surgir as primeiras aplicações nas quais um computador quântico – em conjunto com os computadores clássicos – vão oferecer uma vantagem na resolução de problemas específicos em áreas como os medicamentos, desenvolvimento de materiais, até modelação e otimização do risco financeiro”, explicou o líder europeu da IBM.
“Estamos a falar de uma mudança muito grande no paradigma da computação e também no conjunto de possíveis aplicações destas tecnologias que serão, a meu ver, absolutamente disruptivas e num horizonte temporal não muito extenso”, já tinha sublinhado o investigador Luís Reis.
A comunidade de investigadores que compõe a rede IBM Q já publicou 80 artigos científicos relacionados com a computação quântica e já foram realizadas mais de 4,5 milhões de experiências nos diferentes computadores quânticos que a tecnológica norte-americana disponibiliza.