Um novo estudo compara o vício nos smartphones ao abuso de substâncias, mas também apresenta algumas soluções que mostram que é mais fácil libertar-se do vício.
Há cada vez mais formas de perceber o tempo que passamos ao telemóvel. A Apple introduziu o ano passado no seu iOS12 o chamado Tempo de Utilização, uma parte das Definições do sistema operativo que permite não só ver a média de uso diário, como bloquear aplicações específicas (por exemplo de redes sociais) a partir de certo tempo de uso. Já há a mesma solução para smartphones Android.
Ou seja, há cada vez maior preocupação com a forma como o uso excessivo do telemóvel pode ter um impacto negativo para os indivíduos e é precisamente essa (a do impacto negativo) a conclusão de um estudo recente, que indica como é que esse abuso ao estilo vício pode ser prejudicial para a nossa saúde mental.
O relatório da NeuroRegulation indica que a dependência digital é real e que os smartphones estão a causar um vício em cada vez mais pessoas. O estudo agora divulgado indica mesmo que os sintomas e comportamentos acabam por imitar os do abuso de substâncias e podem levar a sentimentos de solidão, ansiedade e depressão. Isso mesmo foi verificado numa amostra de estudantes universitários que falaram sobre o uso do smartphone dentro e fora da sala de aula.
Os dados permitem mesmo à Sociedade Americana para Medicina das Dependências (ASAM) e à Associação Psiquiátrica dos EUA (APA) indicarem a dependência digital como “uma doença crónica primária de recompensa do cérebro, de motivação, de memória e de circuitos relacionados”. A disfunção nestes circuitos leva a manifestações de características biológicas, psicológicas, sociais e espirituais no ser humano afetado pela dependência.
Em causa estão, em grande medida, as notificações constantes de Facebook, Twitter, Messenger, Snapchat, entre outros, que “acabam por ser quase sempre consideradas importantes o suficiente para o utilizador parar o que está a fazer para olhar para o telemóvel”. O estudo mostra que os estudantes que usam mais o telemóvel, têm maiores índices de isolamento, solidão, depressão e ansiedade do que aqueles que consultam menos o smartphone:
O estudo inclui ainda algumas estratégias para combater a dependência digital, que é identificado como algo bem mais simples do que acontece com a toxicodependência. As sugestões procuram que quem usa muito o smartphone use técnicas para “permitir que haja tempo para o sistema neural do cérebro possa regenerar-se”.
“Nem sempre é fácil quebrar o vício, mas é possível”, indica o relatório que deixa as seguintes recomendações para que possa “assumir o controlo, recuperar as conexões sociais e melhorar a sua atenção proativa”.
DICAS PARA QUEBRAR O VÍCIO DO SMARTPHONE
1. Reconheça que foi manipulado e apanhado numa dependência digital pelas empresas tecnológicas, que o condicionam para reagir a notificações, criadas para que haja o desejo constante para verificar frequentemente pelas atualizações.
2. Torne-se proativo limitando as interrupções quando está a trabalhar, a falar com alguém ou quando tem momentos de lazer.
- Desligue as notificações dos seus gadgets para que não interrompam o seu trabalho.
- Defina altura concretas para que possa olhar para o telemóvel e responder a e-mails, ao Facebook, Twitter, Instagram ou Snapchat e, se quiser, notifique colegas e amigos que só irá responder às mensagens e informações durante períodos de tempo pré-programados como 11h – 12h ou 15 – 16h.
- Agende tempo concreto e ininterrupto para estar mais alerta e atento. Para a maioria das pessoas costuma ser de manhã. Faça os trabalhos mais criativos e que requerem concentração primeiro e, só depois, quando estiver a perder a concentração, é que procure o telemóvel para responder às redes sociais.
- Desligue os seus dispositivos digitais durante eventos sociais (por exemplo, ao jantar ou quando conversa com amigos, colegas de trabalho e familiares).
- Faça uma escolha ativa para estar presente e atento a amigos e familiares.
- Faça do ‘evitar o uso de smartphone’ um jogo. Por exemplo, quando sair para jantar, peça que todos coloquem o telefone no meio do mesa e combine que a primeira pessoa que toque no seu smartphone antes do final do jantar terá de pagar a refeição a todos.
- Deixe tempo do seu dia não planeado para que possa ter oportunidade para fazer auto-reflexão e deixar o cérebro regenerar. O especialista Daniel A. Gross indica que só assim podemos ter disponibilidade mental para descobrir onde nos encaixamos: “esse é o poder do silêncio”.
“Preste atenção ao que o faz mudar de intenção”
O estudo termina a sua lista de sugestões com um aforismo que diz: “Preste atenção ao que o faz mudar de intenção”. A frase sugere que se se focar nos seus comportamentos intencionais, com base nas suas decisões e não em notificações ocasionais, isso pode ajudá-lo a quebrar o ciclo de dependência do smartphone. Essa dependência está associada ao que o relatório indica como “ficar preso na armadilha evolucionária da ‘atenção sem consciência’ (mindless attention)”.