Plataforma de tradução explora novas áreas de negócio, do vídeo à transformação de áudio em texto (a pensar nos jornalistas). CEO da Unbabel, Vasco Pedro, explica-nos a “montanha russa” que é gerir a empresa em crescimento constante (já tem 206 funcionários) a partir de São Francisco.
A Torre de Babel, como é indicado no livro de Genesis do Antigo Testamento, é uma lenda que tem uma explicação religiosa para o facto de se falarem várias línguas no mundo. É daí que também vem o nome da Unbabel, a empresa portuguesa criada em 2013 pelos portugueses Vasco Pedro, João Graça, Sofia Pessanha, Bruno Silva e Hugo Silva e que tem feito sucesso nos EUA (e não só).
O CEO, Vasco, admite-nos numa conversa telefónica que a Unbabel atravessa uma fase de “crescimento entusiasmante”. A empresa está, neste momento sediada em São Francisco, na Califórnia, embora mantenha os escritórios em Lisboa e acaba de anunciar a criação de um novo escritório em Pittsburg, nos EUA, para desenvolver projetos de inteligência artificial.
Vasco Pedro explica que vai agora começar a nova fase de tradução automática para vídeo. “Trata-se de um serviço de legendagem automática de vídeos de todo o tipo, que irá fazer a diferença para muitas empresas pela eficácia que permite”, diz o responsável que, para já, não avançou mais pormenores. A empresa além de usar ferramentas de tradução automática que usam inteligência artificial, marca a diferença pelo sistema que tem inclui um rede de 55 mil tradutores humanos que melhoram o resultado final de uma tradução. A Unbabel quer, assim, assumir a dianteira nesta área onde as promessas iniciais ainda não foram totalmente cumpridas.
Embora não seja novo, a tradução automática, especialmente na legendagem de vídeos, tem tido problemas de exatidão e fiabilidade. O YouTube começou a fazê-lo já em 2013, mas nunca foi verdadeiramente convincente e a plataforma de vídeos chegou a admitir que não faz o chamado scan às legendas traduzidas de forma automática para atribuir palavras chave (fundamentais na pesquisa) aos vídeos.
O Facebook, parceiro da Unbabel, também tem tido problemas no seu sistema de legendas automáticas e cancelou mesmo os testes inicialmente feitos após um discurso de Mark Zuckerberg ter tido legendagem automática repleta de erros ridicularizados online, como lembra um dos responsáveis da Unbabel, Francisco Peres, num post no site da empresa.
Um escritório e um especialista desejado
A Unbabel, que já juntou 31,2 milhões de dólares de investimento – e não irá ficar por aí -, a maioria o ano passado, tem-se focado na tradução para comunicações nos serviços de clientes da Easyjet, ao Booking.com, passando pelo Pinterest e o Facebook e alarga, assim, o seu espetro de serviços.
A abertura do escritório especializado em Pittsburg será um dos elementos que fará a diferença, até porque a Unbabel contratou para o novo espaço que irá investigar e desenvolver as soluções de inteligência artificial, o especialista Alon Lavie, conhecido pioneiro em tradução automática, que assume a vice presidência da Unbabel em tecnologias de linguagem, após passagem pela Amazon e duas décadas em investigação na reputada Universidade Carnegie Mellon, precisamente de Pittsburg.
É lá, em Pittsburg, que existe um dos melhores centros de pesquisa em ciência da computação e tecnologia da linguagem do mundo, o que dá acesso “ao talento que é fundamental nesta área”, diz Vasco Pedro, que acrescenta: “A nova tecnologia neural aliada à camada humana de tradução permite derrubar as barreiras linguísticas e melhora a fiabilidade dos nossos serviços”.
Ferramenta para jornalistas
Noutra área, a Unbabel começa em breve testes beta na língua inglesa e focados, para já, nos EUA, de um serviço para jornalista para transcrição de entrevistas. “É uma solução que permite pegar em ficheiros aúdio e torná-los em texto corrido. A ideia é que depois de se gravar a entrevista e colocar na plataforma o ficheiro, termos o conteúdo desgravado em texto passados 5 a 10 minutos”. Vasco Pedro admite que tudo será testado, sempre aliando inteligência artificial à tradução humana que tem dado tão bons resultados à empresa.
Ritmo “montanha russa” e “de sonho”
A Unbabel tem beneficiado da “componente prática e de constante experimentação da cultura norte-americana”. “Aqui há uma maior capacidade ao experimentar sem dar tanta importância quando se falha, assume-se que isso faz parte da experiência da aprendizagem, o que traz maior capacidade de reinventarmos produtos e empresas”, explica, entusiasmado. A presença em São Francisco, onde abriram recentemente mais um escritório, permite não só estar em contacto com os clientes, alguns dos gigantes tecnológicos, como também coloca a empresa “em contacto com o berço de experimentação, o sítio onde pessoas de todo o mundo chegam para mudar o mundo”, o que leva a que “as coisas funcionem mais rapidamente”.
O impacto a nível pessoal é “bastante grande”, pelo “ritmo a que tudo se move na empresa”. “Sinto uma necessidade da empresa em que eu continue a evoluir constantemente”. Num ano e meio a Unbabel passou de 25 para 206 pessoas, em vários escritórios. “E ainda há a evolução da tecnologia, o crescimento enorme dos produtos e das receitas, o que vai mudando as variáveis com que temos de lidar e também muda a forma como gerimos a Unbabel”, admite Vasco, que tem de ir adaptando rapidamente os processos na empresa.
Embora seja “entusiasmante”, também “é uma montanha russa para perceber como lidar com as novas oportunidades”.