> Em entrevista ao Dinheiro Vivo/Insider, líder da Web Summit revela que está próximo de fechar como orador um ator de Hollywood e admite ter dois escritórios em Portugal.
> Pessoas como Mark Zuckerberg ficam fora da Web Summit – este ano deve esgotar mais cedo – e Paddy explica porquê.
> O seu líder de engenharia é português e trabalha de forma remota, a partir da sua casa em Portugal.
> Está a preparar a criação de uma espécie de clube que vai dar livros aos participantes.
> Conferência secreta antes da Web Summit será em Cascais.
No seu estilo descontraído de sempre, envergando uma t-shirt da Web Summit já gasta, Paddy Cosgrave voltou a Lisboa depois de três semanas de férias – uma delas totalmente desligado do mundo, sem acesso ao telemóvel – para uma visita relâmpago que contou com uma reunião com o ministro de inovação japonês, no Altice Arena.
Aproveitámos para falar com Cosgrave sobre algumas das novidades do evento que promete voltar a juntar alguns dos nomes mais entusiasmantes da tecnologia “que está a mudar o nosso mundo”. Nesta conversa o CEO e fundador da Web Summit, além de fugir a polémicas relacionadas com o alargamento da FIL, mostrou algumas das suas intenções para a conferência que tem garantida presença no país até 2028.
Cosgrave explicou, inclusive, algumas particularidades da forma como criou, sem investimento, o evento que vai reunir de novo 70 mil pessoas em Lisboa de 4 a 7 de novembro e também a forma como aborda os convites de oradores para o evento – ficamos a perceber porque, por esta altura, não tem interesse em convidar Mark Zuckerberg ou Sheryl Sandberg, do Facebook.
E o que é a Web Summit? “Desde o início, é um caldeirão [melting pot] de boas ideias em busca de clientes, parceiros e talento.”
Convites CR7, Mourinho e… Musk
“Ainda não conseguimos o Cristiano Ronaldo, mas também queria que José Mourinho viesse”. Paddy Cosgrave não esconde um fascínio pelo treinador português. “É um tipo incrível, diria até um génio e adoro ouvi-lo”. O CEO da Web Summit admite que o encontrou num hotel, há 18 meses, mas não viu interesse do técnico “em vir a uma conferência de tecnologia”, mas vai insistir: “Se ele falasse no palco principal ia encher”. Muitos dos convites são golpes de sorte, tal como aconteceu com Elon Musk (Tesla) e Reed Hastings (Netflix) em 2013 – “confirmados na véspera”.
Paddy admite que há convites que não faz, por não estar interessado “em ouvir discursos feitos”, como seria nesta altura “com Mark Zuckerberg ou Sheryl Sandberg” (Facebook), mas quer voltar a contar com Elon Musk, embora seja difícil porque a apresentação de resultados da Tesla “costume coincidir com a Web Summit”.
Devora artigos científicos e quer “ligar” o mundo
O CEO da Web Summit devora diariamente artigos científicos, todas as manhãs, nasceu há 36 anos em Dublin, é fanático pela Apple e há muito que adora a ideia de reunir pessoas interessantes que partilhem ideias. A ideia a Web Summit começou numa visita a Silicon Valley para ver amigos, onde eles se reuniam constantemente e quis replicar o mesmo em Dublin. “É isso que a Web Summit é, um caldeirão (melting pot) de boas ideias, em busca de clientes, parceiros e talento”. Mas tudo foi uma construção.
Na Trinity College – universidade de Dublin onde estudou – dirigiu uma sociedade de debate com 330 anos, onde aprendeu a reduzir o tempo de debate para pouco minutos, “muitos eram uma seca”. Tentou fazer software com colegas, inclusive uma rede social “de porcaria que ninguém usou” e, na primeira vez que tentou fazer uma conferência com um colega, sentiu-se enganado por investidores. Daí que avançasse para a Web Summit com zero de investimento. “Não o voltaria a fazer”, admite, até porque “é preciso ter lucro para pagar contas todos os meses e é muito difícil, já não tenho essa energia”.
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Segue a entrevista completa:
Como está a correr a preparação do Web Summit? É cada vez mais simples?
Tudo está a correr bem na organização. Todos os anos fica mais fácil, mas gostamos de incluir ideias novas. Por exemplo, vamos mudar muitas coisas no catering este ano, vamos ter novidades entusiasmantes nesse aspeto. Inspirámo-nos muito no que vi no Estoril Open, eles são fantásticos na forma como organizam toda a experiência de refeições – e numa nota pessoal, adorei ver o Stefanos Tsitsipas jogar, é um tipo fascinante que também é vlogger e adoraria trazê-lo à Web Summit, sou fã de ténis. Noutras ideias, quero incluir em breve uma espécie de clube de livros no evento em que os oradores escolhem os seus livros favoritos e depois vamos dá-los gratuitamente aos visitantes (usando tokens) numa espécie de biblioteca onde escolhem o que querem.
E a nível de oradores, que novidades podemos esperar além de Guo Ping, presidente executivo e do conselho de administração da Huawei, Brad Smith, presidente da Microsoft, Elie Seidman, presidente executivo do Tinder, ou Marc Raibert, fundador e presidente executivo da Boston Dynamics?
Vamos continuar a diversificar e a trazer outras vozes além da tecnologia. Apesar de sermos uma conferência de tecnologia, é importante termos pessoas com visões diferentes, mesmo de empresas mais antigas e estabelecidas como o CEO e chairman da Huawei. Em princípio virá um ator de Hollywood conhecido, mas que ainda não podemos revelar por não haver confirmação oficial. Só essa possibilidade já entusiasmou a equipa. Temos um canal de Slack sobre oradores e podemos ver [mostra no telemóvel] que o nome dele já tem 43 “palmas” e dez “corações”. Vemos a popularidade dos oradores junto da equipa. E o chefe de cibersegurança da Siemens não teve “corações” nem “palmas”. Já há grandes nomes no site, mas em setembro e outubro é que tentamos anunciar mais nomes relevantes.
Foi anunciado que iria existir um evento secreto associado à Web Summit. Em que consiste?
É uma das novidades mais interessantes que vamos ter este ano. Será um evento privado que reúne antes da Web Summit, em Cascais, os fundadores das startups mais interessantes a nível mundial em fase inicial, o que inclui várias startups portuguesas (cerca de 20, num total de 500). E essa é uma oportunidade para empreendedores jovens e emergentes (não são todos novos), passarem tempo num local calmo, com alguns dos melhores investidores no mundo e alguns dos melhores jornalistas, embora não seja aberto à imprensa. Não posso é dizer o nome do evento – existe inclusive um nome de código internamente. Será interessante ver o que sai de lá, temos pessoas interessantes a participar.
Há alguma novidade no interesse de países fora da Europa? Houve anos onde Brasil e Canadá eram presenças fortes
Teremos uma grande participação japonesa. Acabámos de nos encontrar com o ministro japonês de inovação, no Altice Arena, o senhor Takuya Hirai – é o ministro mais importante após o primeiro-ministro. Eles levam muito a sério a inovação e dominaram o mundo em eletrónica e robótica durante muito tempo, mas no que diz respeito a startups de software, estão agora a investir mais forte com várias medidas do novo primeiro-ministro que esteve reunido com Carlos Moedas. De alguma forma, a Europa e o Japão têm algo em comum, agora que tentam crescer em startups ao nível de China e EUA. Esse cenário, das startups, tem certamente mudado em Portugal, por exemplo. Quando viemos para cá, em 2016, haviam coisas a acontecer, mas agora está numa altura incrível, com muito motivos de interesse para os investidores.
Como será a Universidade do futuro em Portugal? “Aprender é para a vida”
O país continua a crescer a nível tecnológico em geral…
Acho que é uma tendência interessante ver que Portugal começa a ganhar asas nesta área tecnológica. O caso da Cloudflare é fascinante, nomeadamente que o CTO deles vá estar baseado em Portugal e, provavelmente, o seu hub de engenharia mais importante do mundo passe a ser no país. Claro que é ótimo quando um call center ou centro de apoio de uma empresa tecnológica abre cá. Qualquer emprego é importante, mas melhor do que um trabalho, é um emprego de alto valor. E acho que quanto mais cargos de engenharia são criados em Portugal por startups locais ou empresas tecnológicas que vêm para cá, mais vibrante o ecossistema se torna. Porque em Silicon Valley não são os tipos de vendas que dão força às startups ou às empresas de tecnologia, são os engenheiros. Na maioria dos casos, porque há sempre excepções – o Steve Jobs, por exemplo -, são os engenheiros que guiam a inovação. Quanto mais atividade acontecer nessa área, melhor para o ecossistema geral. E a qualidade da vida é muito importante na decisão, porque os engenheiros hoje basicamente podem escolher onde querem trabalhar.
Perguntem à Cloudflare, porquê Portugal? E eu conheço bem o CEO deles, já vêm à Web Summit desde 2011, e chegam cá para também poder atrair talento de todo o mundo, porque para eles Portugal é um belo país para estar. Sei que Estugarda é um bom sítio para se viver, com boa qualidade de vida, mas quando venho cá é como se estivesse de férias todos os dias, a comida é óptima, a qualidade de vida é boa, é muito seguro e temos muitos dias de sol.
A nível de procura de bilhetes, o facto de não aumentaram o número mudou alguma coisa?
Sim, voltam a ser 70 mil. Estamos a ter mais procura. É o primeiro ano em que a Web Summit deve esgotar mais de uma semana antes do evento e antes, normalmente, eram dois dias antes, o que vai ser interessante.
Paddy admite que quer mais espaço na Web Summit
Em termos do espaço de exposição, a FIL para já continua na mesma, as obras ainda vão demorar. A AIP disse recentemente que a Web Summit quer um crescimento de instalações mais cedo do que previsto, já em 2022 e isso significa 90 milhões de investimento. É verdade?
Não sei nada desses detalhes além do contrato assinado com a câmara. O ano passado, fora da FIL, existiam cartazes enormes com todos os detalhes dos planos de construção para a ampliação e já estavam os dados. Não vi nada de diferente desde essa altura. Embora não cresça em espaço, vamos ter alterações no espaço que ainda não posso revelar, mas acho que as pessoas vão ficar positivamente surpreendidas quando lá chegarem em novembro. Há inclusive pormenores que eu próprio ainda não conheço, até porque estive três semanas de férias.
Jovens, estudantes e com licença para esmiuçar o cérebro de Paddy Cosgrave
Mas em termos de planeamento, onde querem ir em termos de crescimento da Web Summit?
Adorávamos poder trazer mais pessoas do mundo em geral a Portugal [tiveram 70 mil em 2018] e crescermos em espaço irá permitir isso. Queremos crescer todos os anos. Este será o primeiro ano em que vamos ficar do mesmo tamanho de visitantes e se calhar até é uma coisa boa. Pode esgotar mais cedo, o problema é que muitos portugueses compram bilhetes na última semana e duvido que este ano hajam bilhetes nessa altura. Este ano tenho a certeza que vamos ter de lidar com telefonemas a perder de vista de entidades oficiais ou de pessoas como o CEO da Galp. “Onde estão os meus bilhetes” (risos).
O português João Soares, líder da engenharia a partir de casa
A nível do espaço, não houve exigências então?
Esse não é o meu foco, sinceramente. Nem penso muito nisso, foco-me mais em quem são os oradores interessantes, quem são as startups interessantes. Como podemos melhorar o software dos nossos serviços. A maioria das pessoas nessa altura passa mais de uma hora por dia no nosso software e temos agora mais engenheiros do que nunca. Na verdade a Web Summit quando começou era para por à prova software pensado para esta área das conferências e, eventualmente, poder tornar-se numa espécie de fornecedora de software para outras conferências.
Estamos a construir uma equipa de engenharia mais centrada em Lisboa – na verdade está em muitos locais e será distribuída. Já temos o nosso vice presidente de engenharia que está a trabalhar em Portugal.
Como se chama ele? Quantas pessoas têm na engenharia?
Nessa área em geral, com vários papéis por toda a empresa e em trabalhos de apoio são cerca de 50 pessoas, vários portugueses na equipa e estamos a aumentá-la. Esse vice presidente não está a trabalhar no nosso escritório em Lisboa, curiosamente, trabalha de forma remota a partir da sua casa, o que é incrível. E acho que para o vice presidente de engenharia ser português é importante. Chama-se João Soares. E depois, outro dos nossos engenheiros principais, deverá vir para Lisboa da Irlanda e também ele é português. Nos últimos dois ou três anos, alguns dos nossos principais engenheiros são portugueses. E agora, que já absorveram a cultura de como construímos coisas [estiveram na Irlanda], vão começar a vir para Portugal.
Esteve com um responsável de uma empresa que gere centros de congressos em busca de um local para um novo centro em Lisboa. Que planos têm em relação a este tema, chegaram a alguma conclusão mesmo nas conversas com o governo e município?
Neste momento está tudo de férias, por isso não há muito para dizer (risos). É importante explicar que eu estive incluído numa comitiva com membros do governo e da câmara nessas visitas e não seria nada para mim. Terá de ser a cidade e os políticos a decidir se faz ou não sentido ter um centro de congressos maior e criar outros negócios a partir daí, embora eu acho que o potencial está lá e há cidades que têm centros enormes, inclusive mais do que um e capitalizam isso bem. O meu papel nessas visitas foi só como ponto de referência para a delegação.
Mas houve conversas concretas sobre esse possível novo centro de congressos?
Bem… o meu ponto de vista pessoal é que a FIL é de nível mundial, de qualquer forma. Acho que na Web Summit estamos satisfeitos com a FIL e com o plano atual de crescimento. A questão é mais para Portugal e para Lisboa, se há uma oportunidade de atrair outros eventos mundiais grandes além da Web Summit. Por exemplo, Barcelona tornou-se no local mais importante da Europa para eventos, e isso também aconteceu pelo bom tempo e, claro, por haver instalações. Eles têm dois centros de congressos que são combinados e são quase 20 vezes maiores do que há em Lisboa. Têm muitos eventos e fazem negócio disso. A questão para muitas cidades é quantos mais turistas podem ter. E isso vê-se já em Portugal. Ou, pode Portugal apostar mais em turistas que gastam mais dinheiro. Há estas questões e, por isso, países como Espanha estão focados num turista de negócios, porque gastam cinco vezes mais por dia, do que um turista normal. Dito isto, acho que deve haver um turismo diversificado, mas para restaurantes, hotéis e negócios pequenos este turismo de negócios é importante e por isso construíram espaços de congressos maiores. Mas neste momento estamos felizes, tudo está bem. Temos o Jaden Smith e o CEO da Huawei – espero que façam uma dança juntos -, por isso, está tudo a caminhar.
Em Portugal temos agora alguns problemas em formar engenheiros nestas áreas, porque a procura já é maior do que a oferta…
Acredito, mas a oportunidade que isso cria para outras zonas do país além de Lisboa, mesmo eventualmente trazendo talento de fora é interessante. Mesmo para o Porto, Coimbra, Viseu, ou até Faro ou a Madeira podem crescer a partir daí. Não há razões para estar tudo em Lisboa.
E sobre o Cristiano Ronaldo, vai lá?
Ainda não o temos, mas estamos a tentar. Nem o José Mourinho, que eu queria muito que viesse. E ele nem tem emprego neste momento. Tivemos o ano passado o Jorge Mendes. Acho que o Mourinho é uma personagem fascinante e viu-o a comentar ontem na Sky Sports, o Man. United-Chelsea. Ele é tão bom e inteligente. Eu acho que ele é em certa medida uma espécie de génio. Conheci-o há uns 18 meses, no hotel Four Seasons. Apresentei-me e ele disse que já sabia que eu era da Web Summit, mas não via o objetivo de ir a uma conferência de tecnologia. Ele achou que ninguém o quereria ouvir por lá, mas eu não concordo. Se ele falasse no palco principal, aquilo ia encher. Ele é tão respeitado a nível mundial e é tão interessante, por isso, espero que este seja o ano em que o temos. A não ser que seja contratado entretanto. O problema é que é muito difícil para treinadores irem ao evento, porque ao ser durante a semana e com a Liga dos Campeões e os treinos… o Klopp era suposto vir o ano passado, mas a agenda dele não o permitiu.
Ser treinador de futebol é difícil, raramente têm dias de folga… e depois acabam sempre por ser despedidos (risos).
Já tiveram o Elon Musk na Web Summit. Gostava de voltar a contar com ele?
Sim, sem dúvida. Mas desde há uns anos que acho que a Tesla tem a sua apresentação de resultados nessa semana e isso não ajuda. É interessante, que isso é a única coisa que impede sempre os responsáveis de empresas de virem à Web Summit. Por isso, talvez não este ano, mas tenho de ver se calha na mesma semana ou não.
É muito interessante perceber o que interessa às pessoas
E outros líderes, como Mark Zuckerberg ou os líderes da Google, é difícil trazer?
Não, nem por isso. Já tivemos todos os principais executivos do Facebook, bem como todos os outros co-fundadores do Facebook e às vezes é só timing. O Reed Hastings o CEO da Netflix, por exemplo, também é um tipo fascinante. É curioso, porque em 2013 foi no dia antes da conferência que ele me contactou e disse que queria tirar uns dias e ir à Europa com a sua equipa de executivos e perguntou se podia vir ao nosso evento. Às vezes estas coisas acontecem por sorte. Com o Elon Musk também foi assim, uns três dias antes que ele confirmou.
É muito interessante perceber o que interessa às pessoas. Sabemos por todos os dados que reunimos que os nossos visitantes são, por norma, pessoas com empresas com ritmo de crescimento acelerado de todo o mundo e os oradores mais interessantes para eles não são os mais óbvios. Um dos problemas de tantos executivos de algumas das maiores empresas de tecnologia, são demasiado treinados, dizem sempre as mesmas coisas. Eu diria que as pessoas estão mais interessadas na parte mais técnica, em políticos com algo para dizer e na próxima onda de empresas que vai mudar tudo. E se pensarmos em todos os investidores e jornalistas que estão cá, a Web Summit para eles é sobre a próxima grande revolução, não a coisa que já existe. Porque sabem que a Sheryl Sandberg, do Facebook, vai sempre dizer a mesma coisa, manter-se fiel às suas notas. É mais interessante ter aquele CEO que está quase a tornar-se num unicórnio ou vai tornar a sua empresa cotada em dois ou três anos. Sabemos que o CEO da Slack, Stewart Butterfield e o seu co-fundador, ambos falaram umas 10 vezes nos últimos anos na Web Summit. O co-fundador da WeWork também cá esteve e os tipos da Uber. E nos últimos quatro anos eles têm sido os oradores blockbuster para muitos dos nossos visitantes.
Ainda assim é importante ter nomes mediáticos mesmo a nível de marketing…
Sim, sem dúvida. E muitas vezes pomos pessoas no palco que ninguém conhece, por isso, temos de encontrar um equilíbrio. E o Elon Musk quando fala ainda diz muitas coisas inconvenientes e que põe em pânico as suas pessoas da comunicação da Tesla.
A Web Summit está numa boa fase de crescimento, incluindo em Portugal, certo? Estão na zona da Baixa de Lisboa com um escritório e a crescer a equipa. Vão ter um segundo escritório ou passar tudo para o Hub do Beato?
É bem possível ter dois. Não quero já indicar isso, porque temos negociações a decorrer. Achamos o Beato muito interessante e devemos entrar no novo Hub Criativo. O outro espaço na Baixa é simplesmente fabuloso. Gostamos e por isso é provável que o mantenhamos. Em Portugal devemos ter este ano 20 pessoas cá a trabalhar.
Fazer parcerias com universidades portuguesas continua a ser objetivo para os próximos anos?
Fizemos parcerias com algumas universidades portuguesas e vamos fazer algo com uma universidade mesmo antes da Web Summit este ano (ainda não posso dizer qual). Também estamos agora a trabalhar com o Ministério da Educação. Tivemos um programa, chamado Inspire, para dar bilhetes. Escolas em zonas mais longe de Lisboa não estavam a ter tanto acesso, a maioria do bilhetes estavam a ser monopolizados por algumas escolas, até porque os bilhetes estavam abertos a qualquer escola. Tínhamos 200 ou 300 alunos das mesmas escolas e começámos a trabalhar com o Ministério da Educação para nos ajudar a diversificar. Admito que pode ser mais difícil a nível logístico para quem está no Porto, por exemplo.
Temos um programa de embaixadores em que alguns dos nossos melhores voluntários do ano anterior, são de certa forma promovidos e têm mais responsabilidades e podem ter de cuidar de oradores mais relevantes e isso dá-lhes uma experiência e nível de exposição aos 20 ou 21 que não teriam normalmente.
O início da Web Summit, sem investimento
Sobre o início da Web Summit, li que a ideia partiu de uma viagem para ver amigos que trabalhavam em Silicon Valley e ver o ambiente de colaboração contagiante entre pessoas de empresas diferentes… foi por aí, certo?
Sim, foi por aí. Inicialmente queríamos criar uma forma das pessoas se poderem reunir-se e partilhar ideias. Não haviam muitas oportunidades das startups se reunirem em Dublin e elas aconteciam quase todas as semanas ou até dias em Silicon Valley. É importante esse melting pot de partilha ideias e a Web Summit é um melting pot gigante de pessoas com boas ideias, à procura de clientes, parceiros, talento para a sua equipa. Foi assim que começou.
Mas se tivesse de fazer tudo de novo, de maneira nenhuma faria isto sem financiamento, é muito difícil e já não tenho a energia para o fazer.
Não houve um momento Eureka?
Os jornalistas adoram momentos Eureka (risos). Não, foi mais uma sucessão de eventos. Na universidade, no Trinity College, dirigi uma sociedade de debate com 330 anos, A Universidade Filosófica da Sociedade. Todos os departamentos eram departamentos de filosofia, porque a biologia e a física, tudo isto veio da filosofia natural. E às vezes temos sorte e pelo caminho estamos a aprender estas ferramentas diferentes. Pelo caminho também aprendi a programar software, não era particularmente bom, mas encontrava amigos e fazíamos algo na universidade. Aí veio o meu gosto pelo software, muitas das coisas eram focadas já em networking. A certa altura eu e um tipo chamado Dave O’Locklan construímos uma rede social de porcaria que nunca ninguém usou. Tentámos coisas diferentes. Muitas vezes o que fazíamos em software era desenhado para juntar pessoas, sem intenções de criar uma conferência uma dia. Depois estava nesta sociedade de debate, o que significava que me sentava em debates muito maus, sabia que os debates deviam ser curtos, e depois, partimos a partir daí.
Em 2009, tinha uma startup com um tipo chamado Oisin Hanrahan e haviam uns investidores iniciais que, basicamente, tomaram conta de tudo e partimos em caminhos separados. O Oisin conseguiu, depois, angariar mais 150 milhões de dólares, para construir uma empresa nos EUA e recentemente vendeu-a. E eu nunca mais quis angariar dinheiro de nenhum investidor. Decidi que devia criar uma empresa sem financiamento nenhum (bootstrap) e foi assim que a Web Summit nasceu.
Mas se tivesse de fazer tudo de novo, de maneira nenhuma faria isto sem financiamento, é muito difícil e já não tenho a energia para o fazer. É uma boa garantia de futuro e dá-nos mais tempo. O que isso significa, fazer sem financiamento (bootstrapping a campany), é que temos de ter lucro suficiente todas as semanas e todos os meses para pagar as contas, para ter as luzes acesas, enquanto com investidores, eles dizem-nos que em dois ou três anos já devemos perceber como vamos fazer dinheiro, por agora ficam com uma participação e damo-vos este dinheiro. Acho que na maioria das vezes é um bom negócio para todos.
Estive no Facebook AI, uma espécie de universidade do Facebook para inteligência artificial, e eles contrataram filósofos para essa área. Os filósofos voltam a ser relevantes e podem ser ajuda importante nesta nova era digital onde tudo está a mudar?
Sem dúvida. Sempre que a sociedade foi radicalmente alterada eles têm sido importantes. Se abrirmos um manual da escola, com um sumário dos 50 filósofos mais importantes, vemos um padrão. Quando as Cidades-Estado emergiram, na Grécia, uma nova ideia para a organização humana, uma Cidade-Estado com muitas pessoas a viver juntas. Foi daqui que Platão e Aristóteles vieram. Porque havia este apetite de perceber, como deveríamos viver, com esta nova estrutura. Depois a Revolução Industrial começa a descolar e, outra vez, vemos estes filósofos a surgirem porque precisávamos de ideias para toda esta mudança pivot de como devemos viver. E os filósofos morais, hoje conhecidos como economistas, embora já não sejam particularmente morais, fingem em certa medida uma moralidade, como o Adam Smith, David Ricardo, David Humes (embora não fosse um economista propriamente), todos emergiram nesse período. Porque fomos à procura de ideias de como deveríamos comandar a estrutura da nossa sociedade radicalmente diferente e alterada. E, agora, perante este momento charneira criado por toda esta tecnologia, que é tão transformadora como a anterior Revolução Industrial, penso que agora é a melhor altura dos últimos 200 ou 300 anos para eles surgirem, porque precisamos de novas regras para percebermos como podemos coexistir de forma pacífica num mundo de crescimento e alteração profunda, de robótica e inteligência artificial. Por isso, parece-me claro que há um vazio neste momento em que há incerteza. As nossas sociedades estão a ser viradas do avesso e achávamos que tínhamos chegado a uma espécide de fim da história, mas não, é todo um novo capítulo. É quase como cada novo capítulo, a Cidade-Estado, a Revolução Industrial, precisamos dos filósofos para nos ajudar a pensar e agora entramos num novo capítulo. Não é o fim da história, pensávamos que o livro estava terminado, era tudo democracia liberal e viveríamos assim milhares de anos, mas a realidade disse-nos que não, esse capítulo está a fechar e precisamos de novas filosofias para a sociedade.
Vão ter filósofos na Web Summit?
Sim, costumamos ter muitos académicos presentes, embora não sejam os nomes mediáticos.
O historiador e filósofo Yuval Noah Harari, que tem ganho muito mediatismo com os seus livros, não será um deles?
Não sei… Tentei ler o livro dele, Sapiens, há algum tempo. E no meu mundo custou-me. Eu passo muito do meu tempo a ler trabalhos académicos, uso muito o Google Scholar e as minhas expectativas são que quando apresentamos ideias radicais ou alternativas, o ónus fica no autor de colocar notas de rodapé para explicar de onde vêm estes grandes saltos que estamos a dar, as referências é toda a base da ciência. E o mundo progrediu mais do que em qualquer outra coisa baseado em revolução científica, por isso temos de usar provas para usar certos argumentos e achei que lhe faltavam muitas provas para tecer certas teorias. É incrivelmente bem escrito, incrivelmente interessante e claramente provocador de pensamentos novos e são livros com grande impacto, mas eu quero ir às notas de rodapé. Vejo vários parágrafos, com vários argumentos intrigantes que são saltos de imaginação mas sem as referências que nos referem provas para o que está a ser dito. Esse estilo de escrita é inaceitável para um académico de 18 anos, não é aceitável. Mas como leitura curiosa para as pessoas em geral, talvez seja aceitável. E é claramente provocador, faz-nos pensar… e tenho a certeza que ele até poderia querer usar mais citações mas o editor dele disse-lhe que venderia mais se não pusesse. Tive de parar, porque não tinha referência para perceber de onde todas aquelas ideias estavam a vir.
VivaTech. O que vale o evento que travou ida da Web Summit para Paris