Inglês líder do programa de cocriação da Fujitsu explica-nos como nova área da empresa está a aproximar startups, universidades e empresas para criarem soluções à medida de cada negócio. Projeto já chegou a Portugal.
O cargo que o inglês Joachim Box ocupa atualmente na gigante japonesa Fujitsu não existia há cinco anos. Aliás, quando entrou na empresa há cinco anos era diretor de inovação. Nos últimos dois passou a ser responsável global do programa de CoCriação. Atualmente essa é uma das áreas em que a maior empresa japonesa em tecnologias de informação (com 130 mil funcionários) mais aposta para o seu futuro e para a transformação digital dos seus clientes.
O projeto começou no Japão, mas este ano já se expandiu a nível global e chegou mesmo a Portugal – passou inclusive pela Web Summit. Para já tem uma equipa de oito pessoas no projeto de cocriação no Japão, que se interligam com outros 150 espalhados pelo mundo.
E o que é então o programa de cocriação?
São pequenos eventos de transformação digital que a Fujitsu promove com empresas ou negócios onde, “em vez de apresentar as suas ferramentas em concreto, tenta desenvolver uma conversa em que os possíveis clientes explicam os desafios que atravessam e os participantes tentam criar, em colaboração, soluções personalizadas”.
Na Europa em apenas seis meses fizeram-se já 125 sessões – mais de uma dezena delas em Portugal. A estratégia de co-criação vai mesmo além destas sessões, “está a ser implementada como conceito de trabalho por toda a empresa”, explica-nos Joachim Box.
O processo que alimenta as tais sessões e a transformação na própria Fujitsu dá pelo nome de Human Centric Experience, daí que a estrutura das sessões seja totalmente focada numa conversa entre intervenientes onde não faltam ecrãs táteis e um sem número de cartões de estilo japonês que ilustram as várias formas como certas tecnologias podem ser utilizadas em situações concretas. “É daí que as empresas que vão às sessões, os nossos tecnólogos ou mesmo startups ou académicos que costumamos convidar acabam por tirar algumas ideias para os problemas que são expostos”, explica o responsável.
“As empresas hoje procuram mais uma parceria ou colaboração, uma espécie de cocriação e essa é uma motivação para trabalharem connosco”, no entanto, antes de falarem em serviços ou preços concretos, Box admite: “em primeiro lugar é preciso estabelecer uma relação de confiança onde nos percebemos melhor uns aos outros, porque só assim podemos cocriar uma solução apropriada, personalizada”.
Estes eventos podem ser feitos nas instalações da própria Fujitsu – têm espaços quase sem referências à empresa – “para ser um lugar o mais neutro possível” -, “mas também em hotéis, caves ou nas próprias empresas”. Os chamados centros de transformação digital existem já em várias cidades: Tóquio, Osaka, Munique, Londres, Nova Iorque e, desde Outubro, têm em Sidnei – nesse caso foi o primeiro centro que ficou fora da própria Fujitsu, já que fica numa universidade local e pode funcionar como hub para startups ou PME.
Recentemente, na Europa, criaram um modelo itinerante para integrar num veículo para que possam fazer as sessões de cocriação em qualquer lugar. Já o fizeram no Fórum Económico Mundial, em Davos, ou até na Lapónia.
Para os eventos, que costumam demorar 45 minutos, a diversidade assume-se como o mais importante, desde a diversidade geográfica, mas também em ferramentas técnicas e em organizações incluídas. É aí que entram as startups, que podem ser incluídas nas sessões “para darem soluções mais específicas” que a Fujitsu não tem, mas também são, por vezes, convidados investigadores universitários para ajudar.
Portugal já começou a testar
Em Portugal existem duas universidades que são parceiros da empresa, por exemplo. Susana Soares, diretora de marketing da Fujitsu Portugal indica-nos que o projeto de cocriação permite que os clientes “olhem para a empresa de forma diferente, tentando pensar fora da caixa para, juntos, construir uma solução”. Além das sessões da Web Summit, têm havido outras. “Temos tido muitos pedidos de empresas de serviços financeiros, setor energético, indústria (é uma área onde já fizemos muitas sessões)”, admite a responsável.
Joachim Box complementa com a importância das startups no processo. “As startups precisam da nossa ajuda mas também têm conceitos e inovações incríveis que criaram, ou começaram a focar-se num nicho ou numa indústria ou sub-sector, onde acabam por ser mais especialistas e também podem trazer algo interessante para os nossos clientes”. O responsável diz mesmo que “não é credível para empresas grandes como a Fujitsu dizer que tem todas as respostas”, no entanto: “ajuda ter uma rede extensa e é isso que queremos disponibilizar aos nossos clientes, mesmo com a ajuda de empresas externas como as startups”.
Box adianta que a Fujitsu pode ajudar a integrar “as soluções das startups de forma segura, porque tem experiência na implementação em grande escala”. “Podemos ajudar as startups repletas de talento e boas ideias que por vezes têm problemas em trabalhar com escalas maiores”, admite.
Uma das maiores surpresas na expansão do projeto de Tóquio para o mundo foi verificar “que existem menos diferenças culturais nesta era digital, por exemplo, entre o Japão e a Europa”. “Vivemos na era móvel e todos têm smartphones, que são já computadores potentes e a tecnologia wearable também ajuda, por isso as soluções são mais parecidas do que pensávamos”, admite Joachim Box. Ou seja, mais do que uma questão cultural, “resolver os problemas é sim a forma como nos conectamos com pessoas com conhecimentos profundos do seu negócio”.
O feedback dos clientes parece convencer a Fujitsu em expandir o conceito, já que 88% dos seus clientes “estão confiantes que tiraram das sessões melhores soluções para os seus problemas”.
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Era multidisciplinar de soluções tech
Este espírito da colaboração vai muito além só da área tecnológica. Box admite que há grandes vantagens na multidisciplinaridade no processo criativo. “No passado esperávamos que os nossos engenheiros operassem no seu próprio mundo, mas depois uma solução passa para o cliente e os utilizadores não sentem que seja algo feito à sua medida, daí que o processo de colaboração entre áreas diferentes tenha de começar de início”, admite.
O responsável dá mesmo um exemplo, num trabalho que a Fujitsu fez para um fornecedor gigante de meios de transportes, cujo nome não pode revelar. Tentava-se resolver um problema relacionado com adultos vulneráveis que se suicidavam nesses transportes e, numa sessão de brainstorming com dados analíticos de vídeos para tentar ver padrões de comportamento, simplesmente não descortinavam soluções eficazes.
Então alguém se lembrou de convidar um investigador que estudava o sistema prisional. “Foi ele que trouxe ideias notáveis que nos permitiu alterar o estado de espírito de pessoas muito vulneráveis, usando cores mais vivas, música alegre ou iniciativas diferentes ao longo do dia para quebrar a rotina e animar as pessoas numa altura em que se podiam sentir vulneráveis”.
Estudo dá força à transformação no trabalho
Entretanto, um novo estudo feito a pedido da Fujitsu e da Citrix confirma que apesar da resistência dos colaboradores à mudança ser o maior obstáculo individual à transformação da força de trabalho (38%), as vantagens mais habituais são salários mais elevados, oportunidades de formação e melhorias tecnológicas.
O estudo The Economist Intelligence Unit (EIU) define a transformação da força de trabalho como uma “alteração significativa e deliberada da natureza da base de colaboradores de uma empresa e da forma como esta está implementada” e sublinha que este processo “pode incluir uma nova formação alargada do pessoal, apresentando novos estilos de trabalho e de gestão, e alterando a forma como a organização contrata os seus colaboradores.”
As conclusões reveladas destacam que investir na tecnologia certa está à frente até da requalificação das pessoas como a iniciativa mais comum para a transformação da força de trabalho, sendo citada por 83% das empresas. Empatadas no segundo lugar estão os salários mais elevados e as iniciativas para melhorar as competências digitais de uma força de trabalho – com 77% das firmas a dar estes passos para evoluir as competências e a produtividade.
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