Novas balanças de precisão à grama, um ecrã enorme, melhor interface e ligação constante à internet. Testámos a nova Bimby, pronta para despertar o chef que há em nós (com novas funções para slow cooking).
O diabo está nos pormenores. A nova Bimby pode não ser uma revolução a nível de mudanças, mas torna o famoso modelo que não se vende como a maioria dos eletrodomésticos, nas lojas (embora até já esteja no El Corte Inglès, em Lisboa) um verdadeiro dispositivo da chamada Internet das Coisas (IoT).
É certo que ainda não podemos falar com ela, como uma assistente digital ativada por voz (não tem ainda Google Assistant ou Alexa – uma tendência nos aparelhos conectados), mas a Bimby TM6 (é esse o seu nome oficial) é cada vez mais uma máquina pronta para pratos mais complexos, para verdadeiros cozinheiros amadores (e não só).
À primeira vista, notamos logo no ecrã tátil, que está bem maior em relação à Bimby TM5 e com maior definição, permitindo uma utilização bem mais fluída. Ajuda ter um processador mais rápido e o interface está mais simples e fácil de usar, tal como num tablet.
O único senão nos ecrã táteis, que acabam por abrir um novo mundo de possibilidades digitais, é o facto de serem tão fáceis de usar que até uma criança pode facilmente pô-la a funcionar. Daí que, sem surpresa – até porque já é uma regra para todos os dispositivos típicos de cozinha – deixamos também uma recomendação geral que vêm do teste feito: não deixe o ecrã da Bimby ao alcance das mãos de crianças pequenas.
Internet no centro do mundo Bimby
Se há cinco anos a Bimby TM5 mudou por completo o aspeto do robô de cozinha, os engenheiros da localidade alemã de Wuppertal, a casa da Vorwerk (a empresa da Bimby) concentraram-se agora mais na expansão das funções dos cozinhados e na digitalização integrada com a internet. Temos ligação ao Wi-Fi, algo que é tão fácil de configurar como se estivéssemos a fazê-lo no smartphone. Isso permite-lhe ter ligação direta e à distância com o smartphone (usando da app da Bimby). Ainda assim, na utilização normal, pareceu-nos pouco prático usar o smartphone ou o tablet, embora seja uma opção interessante para escolher receitas por exemplo, que aparecem espelhadas depois na nossa Bimby.
O serviço Cookidoo está integrado e, durante seis meses é possível usar este portal gigantesco de receitas com 40 mil sugestões de forma gratuita (depois, quem quer continuar a ter acesso a todas essas opções tem de pagar valor mensal – é possível usar e ter receitas guardadas sem ativar a opção paga).
O funcionamento do portal de receitas, que beneficia da ligação constante ao Wi-Fi, é prático quando baste. Podemos usar filtros para procurarmos o que fazer para o jantar definindo logo o tipo de prato que pretendemos, carne, vegetariano, e afins. É dada a lista de ingredientes e o tipo de preparação, para sabermos logo se temos tudo em casa para executarmos a receita. A Bimby vai-nos indicando o que temos de fazer no ecrã, passo a passo.
Tudo o que fizermos com a nossa conta no site ou no telemóvel, é espelhado na própria Bimby, incluindo personalizar as nossas próprias receitas. O único senão que encontrámos foi o facto de, a certa altura, ficarmos um pouco presos na plataforma de receitas e quem goste de fazer as suas próprias receitas não vai encontrar uma vantagem grande no serviço Cookidoo.
A experiência de utilizador, embora boa – ao nível de um smartphone Android de gama média –, ainda tem pequenos erros ocasionais que podem melhorar no futuro a nível de software.
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Grama a grama, precisão acima de tudo
Outra das novidades no modelo TM6 é o facto da balança fazer a medição grama a grama, e não de 5 em 5 gramas como anteriormente. Para certos pratos, especialmente nos doces, essa precisão pode fazer a diferença.
Em algumas receitas o sistema deteta que há produtos dentro do copo e só assim começa a operar o próximo passo – isto acontece quando o copo aquece a altas temperaturas e é uma medida de segurança. As funções para receitas com altas temperaturas – pode agora atingir os 160 graus – como tortillas mexicanas estão limitadas e não podemos ser criativos e mudar a receita original, por questões de segurança.
A nova espátula, mais flexível (excelente para quem quer ‘rapar bem o tacho’, especialmente os gulosos) e o novo copo com medições que encaixa melhor na tampa também são dois pormenores bem vindos. A nova cesta, onde se costuma fazer, por exemplo, o arroz, também vem com uma tampa o que ajuda a não encher em demasia (o que pode trazer problemas de segurança que são, assim, prevenidos contra os exagerados).
Embora a capacidade do copo se mantenha, com 2,20 litros, há novos mecanismos para tornar a nova geração mais silenciosa quando está em operação, o que também é bem vindo.
Curiosamente, a nova Bimby também permite aquecer água para o chá. A parte boa é que não sujamos propriamente o copo, por isso, é só aquecer (é rápido) e despejar na chávena de chá ou café e elimina a necessidade de ter um fervedor de água. Menos um equipamento na cozinha é sempre uma opção bem-vinda. Temos ainda uma função para tornar mais cremosa a sopa de forma simples e há o sistema de autolimpeza está mais eficaz.
No cozinhar (rápida e lentamente) é que está o ganho
Quem gosta de cozinhar e experimentar receitas vais complexas e demoradas encontra na nova Bimby uma boa amiga. Se misturar, amassar, bater, ferver, picar ou cozinhar a vapor são já funções antigas, agora é possível fazer pratos, como carnes estufadas e afins, que até agora exigiam uma paciência sem limites, de olho ocasional no fogão durante horas a fio.A opção slow cooking, para preparações a baixa temperatura, permite que a Bimby esteja em operação durante 12 horas seguidas. Para certos pratos, especialmente da cozinha portuguesa envolvendo carnes, essa possibilidade é bem vinda, mas não conseguimos testar essa opção no nosso teste. Certo é que só o facto de termos a funcionalidade de aviso sonoro quando o tempo acabou, típica da Bimby, associada a estas receitas mais demoradas, é uma belíssima vantagem.
A opção sous vide (cozinha a vácuo) funciona bem e resultou em bifes no ponto, mesmo que não seja uma prioridade para muitos. ABimby consegue também dourar bem cebola em poucos minutos e fazer caramelocom a ajuda das tais altas temperaturas. A fermentação permite agora seguir novos caminhos, como a especialidade coreana kimchi, iogurtes ou até queijos.
Resumindo: melhor do que nunca, mais conetada e pronta para desafios e receitas mais complexas, a Bimby TM6 está bem e recomenda-se para quem não se importa em gastar 1275 euros por um robô de cozinha que faz bem mais funções do que a maioria dos robôs de cozinha que conhecemos.
Além da experiência de utilização ainda poder melhorar, em certas opções a utilização de receitas próprias fica um pouco limitada, o que também nem sempre é positivo, apesar do argumento da segurança. Sugestões à parte, é difícil não ficar convencido com uma Bimby quando vemos a qualidade do produto final, receita a receita, que podemos extrair dela, mesmo que o preço não seja, claramente, para todas as carteiras. Aderindo à moda e com alguma dedicação para perceber as suas potencialidades, é fácil ter na Bimby uma aliada na cozinha no dia a dia, para uso intensivo e com a tranquilidade de poder ir tomar um banho enquanto a menina da Vorwerk (falamos da Bimby) cozinha por nós e termina a operação mesmo sem a nossa intervenção – também faz o aviso sonoro que a refeição está pronta.
É certo que ainda não tem braços robóticos para movimentar sozinha ingredientes, nem tem o seu próprio frigorífico nem imprime ainda comida em 3D, mas (ainda) é apenas no domínio da ficção científica e de algumas investigações que vão demorar a chegar ao mercado.