O projeto americano CMU Portugal “vai de vento em popa”, já apoiou 50 ideias e 900 estudantes, investigadores e docentes dos dois lados do Atlântico, tem projetos novos de cinco milhões de euros e o seu responsável, Nuno Nunes, explica-nos como o projeto renovado por 10 anos ajuda a mudar o empreendedorismo em Portugal.
É uma das mais prestigiadas universidades do mundo, chama-se Carnegie Mellon University e, embora esteja sediada em Pittsburgh, no Pensilvânia (EUA), tem programas em Portugal (também está no Japão e em Singapura com institutos remotos) há mais de uma década.
O projeto CMU Portugal, que foi renovado por mais 10 anos em 2018, já conseguiu apoiar 50 projetos colaborativos de investigação (de 15 universidades portugueses e envolvendo 900 estudantes e co-financiamento de 15 milhões de euros). Existem 120 empresas parceiras e foram acelerados projectos de 17 equipas empreendedoras portuguesas nos Estados Unidos – foram impulsionadas, desta forma, a criação de 11 startups.
Nuno Nunes é, desde o ano passado, um dos seus dois diretores (o outro é Rodrigo Rodrigues, professor no Instituto Superior Técnico, investigador do INESC-ID e doutorado pelo MIT). O atual presidente do Madeira Interactive Technologies Institute (M-ITI) e professor convidado do Human-Computer Interaction Institute (HCII) da Universidade Carnegie Mellon, explica-nos que “uma das principais missões da terceira fase do programa passa por promover e estimular relação indústria-ciência nas novas tecnologias e no processamento de grandes volumes de dados”.
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A mais recente call para apoio a projetos do programa foca-se nas áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação, com um valor total mínimo previsto de 5 milhões de euros. Tratam-se de projetos de três anos, cada com valor indicativo até 1,25 milhões de euros.
A ideia é que abordem problemas para a indústria como: a ciência e engenharia de dados; inteligência artificial e aprendizagem automática, incluindo machine learning, tecnologias de linguagem, análise de dados e computação em nuvem; mobilidade e autonomia; design e engenharia aplicados a problemas sociais complexos, como, por exemplo, turismo, logística ou indústrias criativas.
“Está aberta a todos e temos inclusive um conjunto de empresas que apoiam o programa, mas não têm necessariamente de ser beneficiadas pelas propostas”, explica o responsável. Nuno Nunes admite que, em breve, irá lançar nova call para projetos mais pequenos, a pensar nas equipas de investigação, “que deve rondar os 70 mil euros por projeto de apoio”.
O professor que já editou 15 livros e publicou 130 artigos em revistas internacionais, congratula-se pela CMU Portugal já ter ajudado empresas tecnológicas portuguesas relevantes. “Apoiámos a Feedzai, o próximo unicórnio de Portugal, a Unbabel ou a Outsystems que são, todas elas, afiliadas industriais do programa”, explica. Na verdade, da lista de afiliados desta nova fase, estão ainda Altice, Accenture, CEiiA, Farfetch, Nos, Talkdesk, Tekever, Thales, Uniplaces e Veniam.
O impacto já registado “tem sido importante” e a nova liderança da CMU Portugal quer “continuar a apostar na formação de jovens doutorados com o apoio da CMU”. O objetivo é que os jovens portuguesas possam criar as novas empresa tecnológicas do país com o máximo de conhecimento possível: “Foi assim que nasceram projetos como os da Feedzai ou Unbabel”.
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Empreendorismo como resposta à crise
Nuno Nunes admite que a cultura norte-americana tem beneficiado os jovens portugueses e o clima atual de empreendedorismo. “Depois da crise em Portugal, houve muitos jovens que perceberam que a investigação do mais alto nível que se faz nos EUA permite criar oportunidades para criarem as suas próprias empresas”, explica o diretor do CMU Portugal, acrescentando: “O doutoramento não é mais do que testar ideias de negócios e trazer para o mercado essas mesmas ideias”.
Essa era uma tradição que não existia em Portugal antes. “Não tínhamos essa visão empreendedora que é prática comum nos EUA, com pessoas qualificadas, mesmo empresários, a apostarem em doutoramentos e em melhores conhecimentos tecnológicos sem barreiras mentais”.
O responsável elogia a nova ambição global de empresas e admite que há cada vez mais jovens portugueses a serem o talento que tecnológicas nacionais precisam para se destacar, isto numa altura em que o país até está na moda. Daí que seja importante que “essas empresas criadas por cá mantenham os centros decisão em Portugal e contribuam para melhorar o país”.
As parcerias feitas com os EUA “servem também para trazer a cultura americana, que é mais pragmática e ambiciosa do que a nossa, para o centro do nosso empreendedorismo”. Esse, aponta, é um dos motivos pelos quais, numa avaliação recente feita por um painel internacional aos projetos feitos em Portugal, “a grande maioria teve uma excelente avaliação”.
Nesse aspeto, destacam-se projetos de robótica na saúde e na ciência dos dados, “que têm excelentes perspetivas para serem aplicados na sociedade e chegaram às empresas, ou mesmo permitirem a criação de nova empresas”. Nuno Nunes admite que em inteligência artificial e robótica “somos muito bons” e os projetos já desenvolvidos “vão ter forte impacto”.
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