Ciberpsicologia. Tecnologia quer ter palavra a dizer no mundo do tratamento psicológico

    programação, finais ICPC, Universidade do Porto

    As psicólogas e professoras catedráticas Ivone Patrão e Isabel Leal lançaram o livro “Intervenção em Ciberpsicologia”, que aborda uma nova área do panorama da psicologia. Para as coordenadoras deste livro, a figura do psicólogo pode também ser vista como “um papel de promotor da literacia digital”.

    Com a tecnologia a ter um papel de crescente relevo no dia-a-dia de muita gente, também a psicologia, ciência que estuda o comportamento e processos mentais das pessoas e grupos sociais, precisou de ‘dar o salto’ para acompanhar o progresso tecnológico. Nascia assim a Ciberpsicologia, “uma área emergente na ciência psicológica”, explicam as coordenadoras deste livro, que conta com o contributo de profissionais de diversas áreas científicas, desde a oncologia até à intervenção psicológica.

    Esta nova área de estudo quer focar-se no estudo dos comportamentos online, na interface com a tecnologia – tanto as práticas que podem ser benéficas para o ser humano, nomeadamente na comunicação e tratamento, mas também não deixa de lado as desvantagens do domínio tecnológico.

    “O livro “Intervenção em Ciberpsicologia” surge no âmbito de uma cadeira dos mestrados do ISPA-Instituto Universitário, que foi pioneiro em Portugal a lançar esta área”, explicam Ivone Patrão e Isabel Leal, que coordenaram os trabalhos da extensa lista de especialistas do livro. “Cada vez mais o recurso ao mundo online é uma constante no dia a dia dos indivíduos, por isso é importante aproveitar as potencialidades das tecnologias para a intervenção psicológica a vários níveis”, apontam as terapeutas e professoras universitárias.

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    Nas várias páginas do livro, lançado pela Pactor, é possível ver as diferentes abordagens desta área da psicologia, que além-fronteiras já dá os primeiros passos desde meados dos anos 90. Além de identificar alguns dos desafios criados pelas tecnologias de informação, o livro aponta ainda formas e usos da tecnologia ao serviço do tratamento psicológico.

    Livro Intervenção em ciberpsicologia

    Com a saúde mental a ser vista por muitos ainda como um tabu, as coordenadoras referem que “a tecnologia pode ser vista como uma forma de chegar mais rapidamente e a mais pessoas”, por exemplo, através do “recurso à psicoeducação, esclarecendo sintomatologias e patologias e quais as formas mais eficazes de as tratar”.

     

    Neste livro há ainda espaço para falar sobre outros pontos do mundo digital, como o ciberbullying ou a pressão das redes sociais – que afetam os mais jovens e não só.  Têm sido constantes os estudos que tentam perceber os efeitos das redes sociais no comportamento humano – um deles, feito pelo The Royal Society for Public Health (RSPH) com a Young Health Movement, aponta que o Instagram é a rede social que mais prejudica a saúde mental dos jovens, por exemplo.

    “As TIC [Tecnologias de Informação e Comunicação] também têm o seu lado negativo e de risco para a saúde geral dos indivíduos. Nesta área é necessário passar a mensagem muito importante: se estar online é a única atividade da vida do indivíduo, com significativa perturbação da sua funcionalidade (por exemplo: sono, trabalho, relações sociais) então é importante procurar ajuda de um especialista em saúde mental”, sublinham.

    Ivone Patrão e Isabel Leal reconhecem que é importante ter um diálogo, neste momento, sobre a presença dominante da tecnologia. A tecnologia pode ter um papel presente no mundo do tratamento psicológico, mas também os profissionais da área podem assumir um papel de “promotor da literacia digital”.

    “Os psicólogos podem ter um papel promotor da literacia digital tanto no contexto clínico como comunitário, porque já têm ao seu dispor várias ferramentas na avaliação e intervenção que têm por base a tecnologia. Mas para além disso, na intervenção com as famílias podem desmitificar a crença de que os mais novos é que têm conhecimentos e usam a tecnologia em comparação com os mais velhos, aproveitando para unir gerações, para as colocar em comunicação sobre os interesses e hobby”, afirmam as autoras do livro.

    “É essencial colocar pais e filhos, por exemplo, a jogar o mesmo jogo – assim os pais percebem o que os filhos gostam, e os pais percebem se os jogos são adaptados para a faixa etária, ajudando a regular o acesso e uso às TIC”.

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