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Na era da internet, bibliotecas itinerantes abrem serviços, da saúde aos CTT

Biblioteca itinerante da Anadia

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Sertã inaugura a 69ª biblioteca itinerante do país, a 6ª com serviços vários numa tendência “que faz toda a diferença” e que usa tecnologia que é básica nas cidades, mas que tem um papel transformador para pessoas de zonas mais remotas.

“Ouvimos histórias incríveis de bibliotecários que, usando Skype ou Messenger, põe familiares em contacto que estão longe”. Bruno Duarte Eiras, Diretor de Serviços de Bibliotecas, da Direção Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB), acredita que as bibliotecas podem e devem ser itinerantes e fornecer serviços que vão além os empréstimos de livros ou CDs, até porque há muitas povoações em zonas remotas e com pessoas de idade para quem o acesso à internet, a multibanco, a um enfermeiro ou aos balcões de serviços municipais “faz toda a diferença”.

A Sertã estreou esta quarta-feira o seu serviço de biblioteca itinerante municipal. A Gulbenkian teve esse tipo de serviço como um dos seus projetos mais emblemáticos, que ajudou milhares a ter acesso aos livros, que durou de 1958 a 2002 (no último ano do projeto ainda existiam 250 funcionários de bibliotecas itinerantes). A ideia inicial dos anos 1950 foi do escritor Branquinho da Fonseca, que fez um teste em Cascais e propôs à Gulbenkian o projeto – aprovado por José de Azeredo Perdigão, primeiro presidente da instituição. As bibliotecas itinerantes da instituição percorrem centenas de localidades de Trás-os-Montes até aos Açores durante 44 anos.

Só na última década é que as bibliotecas municipais começaram a compensar essa ausência, “porque durante algum tempo havia a ideia errada de que este era um serviço do passado, ultrapassado”, diz Bruno Eiras, que acredita, no entanto, que já não bastam os livros, é preciso internet e mesmo outros serviços.

Biblioteca itinerante de Proença a Nova foi a primeira, em 2016, a incluir serviços não tradicionais

Hoje em dia, das 303 bibliotecas municipais que existem em Portugal, 69 têm bibliotecas itinerantes associadas. Em 2016, a primeira itinerante a incluir outro tipo de serviços foi a Bibliomóvel (quase todas as bibliotecas itinerantes têm nomes próprios), em Proença a Nova. “Na altura houve polémica por uma biblioteca incluir um terminal Multibanco e ter um enfermeiro para prestar cuidados básicos às populações, mas tem sido um sucesso junto das populações e é uma das apostas da DGLAB para as bibliotecas itinerantes”, explica Bruno Eiras.

Três anos volvidos, a Sertã estreou agora mais uma biblioteca itinerante do país a incluir serviços diversos (há ainda as bibliotecas de Anadia, Penacova – que disponibiliza ferramentas como berbequim, alicante, pás, etc -, Azambuja, Chamusca e Beja) e, neste caso, até teve o apoio da Gulbenkian.

A “Biblioandante“, a 69ª existente no país, vai dar apoio na área da saúde – inclui também um posto do Balcão Único do Município – permitindo fazer-se rastreios de saúde, preencher e entregar formulários e requerimentos, aceder à Internet e ao serviço de fotocópias. Em breve vai permitir pagamentos num terminal multibanco e recolher dados do património imaterial do concelho (tradições, receitas locais, lendas e cantigas) – Chamusca e Beja trabalham também esta área do património imaterial.

Este tipo de serviços tem uma periodicidade que varia muito da dimensão dos concelhos. “É preciso fazer opções, porque não dá para tudo e por isso há localidades onde a carrinha passa uma vez por semana, mas na maioria passa uma ou duas vezes por mês”, indica Bruno Eiras, afirmando que a DGLAB tem planos para melhorar e aumentar as bibliotecas itinerantes com serviços de apoio ao cidadão, “até porque os encerramentos de espaços, como as estações dos CTT, vai ter um impacto enorme nas populações”. “Depende acima de tudo dos municípios, mas há muito interesse em aumentar esta modalidade”, diz.

O município de Boticas tem duas carrinhas para levar serviços da câmara e posto dos CTT a mais de 30 localidades do concelho

E os CTT? Já há carrinhas itinerantes

Nesta lógica, “faz sentido integrar também estes serviços nestas bibliotecas itinerantes”, diz Bruno Eiras. Os CTT indicam que já têm posto de correios integrado em duas carrinhas itinerantes de Boticas, que prestam apoio ao munícipe e vêm com bons olhos estas soluções “numa lógica de proximidade às populações” e de penetração “da rede de retalho”. Já o Payshop (sistema de pagamentos de serviços), “está já disponível numa viatura, desde dezembro de 2018”, em parceria com a freguesia de Mértola, diz ao Dinheiro Vivo fonte dos CTT.

O terminal Payshop é instalado na viatura e o serviço de cobranças é disponibilizado quando o funcionário se desloca às localidades, em dias previamente agendados e divulgados. “Na Itinerante Mértola os habitantes da freguesia podem pagar as faturas de telefone, luz, água, serviço de portagens e impostos, entre outros”, indicam os CTT, que vão abrir um Payshop no serviço itinerante da freguesia de Penacova em breve.

Oodi. É finlandesa a biblioteca mais high tech do mundo e estivemos lá

Fernando Queiroga, o presidente da câmara de Boticas, indica-nos que “tem havido um feedback bastante positivo dos munícipes” e este “é um importante apoio e uma mais-valia para todos, sobretudo para os idosos” que passam a ter de ir menos à vila de Boticas para tratar dos seus assuntos”. Daí que o projeto seja para “continuar e ampliar em serviços”.

O investimento em duas carrinhas e material tecnológico de apoio foi de 100 mil euros e são dois os colaboradores responsáveis pelas unidades que circulam, cada uma, 50 km/dia em nove rotas diferentes de segunda a sexta-feira. “Foi um investimento significativo, mas apesar de tudo tenho plena consciência que foi uma ajuda preciosa e que contribuímos para a melhoria da qualidade de vida dos nossos munícipes e isso é o que realmente importa”, diz Fernando Queiroga.

No ano de 2018 foram prestados cerca de 15 mil atendimentos relacionados com serviços da autarquia, Segurança Social, Finanças, EDP, CTT, Serviços de Saúde, nomeadamente marcação de consultas médicas e pedido de medicação, entre outros. “É este o caminho”, resume Duarte Eiras, do DGLAB.

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