Mark Zuckerberg ficou sob maior pressão após entrevista à CNN e especialistas pedem a sua cabeça e a de Sheryl Sandberg. O líder do Facebook tem recusado aparecer em eventos públicos.
A entrevista de Mark Zuckerberg, no final da semana passada, à CNN, só veio colocar maior pressão sobre o CEO e fundador do Facebook e o seu braço direito e, há quem diga, esquerdo, Sheryl Sandberg. De olhos algo vermelhos, visivelmente atrapalhado com algumas questões mais sensíveis, Zuckerberg não consegue responder de forma clara aos temas levantados pelo artigo do New York Times.
“Em 2016 é óbvio que falhámos em algo verdadeiramente importante, não estávamos à espera deste esforço russo coordenado em tentar manipular o Facebook e a internet durante as eleições, por isso não estávamos em cima deles”, admite Zuckerberg, que relembra que nos dois últimos anos tem havido um “grande esforço” para conseguir contrariar essa manipulação. É no tema da transparência que o responsável do CEO menos sabe, mais concretamente no que diz respeito a um relatório dentro da sua empresa cujas referências à Rússia terão sido removidas. “As pessoas dizem ‘como é que eu não sabia disto’, mas é algo difícil de perceber quando um Estado está por detrás de uma questão destas”, diz o responsável.
Sobre o facto de ter negado, a certa altura, que o Facebook tenha contratado uma firma para fazer lobby contra comentários negativos sobre a rede social (ligando-os ao magnata George Soros com um tom depreciativo), Zuckerberg voltou a ficar atrapalhado: “só soube disto quando li o reportagem, como CEO claro que sou responsável por tudo o que se passa, mas é importante percebermos que todos os que trabalham connosco têm de seguir os nossos valores”. O responsável admitiu, no entanto, que foi um erro.
Já sobre mudanças no Facebook, Zuckerberg foi claro como água, indicando que nem ele, como CEO, nem Sheryl Sandberg como COO, vão sair no futuro próximo. “A Sheryl é parte importante desta empresa e lidera muitos dos esforços para resolver os problemas que temos tido. E é uma parceira muito importante para mim há 10 anos. Estou muito orgulhoso do trabalho que fizemos juntos”.
Zuckerberg ficou ainda mais sobre pressão durante o fim de semana, com as respostas de alguns dos nomes mais respeitados na análise à área tecnológica a pediram a cabeça do próprio e de Sheryl. No artigo de opinião da jornalista Kara Swisher, a conhecida entrevistadora dos maiores gurus de tecnologia defende que Sheryl Sandberg não deve ser vista como principal responsável pelos problemas de privacidade e má gestão de crises do Facebook, algo que se tornou mais evidente com a longa reportagem do New York Times que saiu há duas semanas.
Swisher garante que, se Sandberg sair, Zuckerberg deve sair com ela já que ele é tão ou mais responsável. “Vejam como é ela que parece passível de ser despedida e não Zuckerberg. Não interessa a sua responsabilidade, ele não é passível de despedimento, é intocável”.
Zuckerberg avisa que não vai abandonar a liderança do Facebook
Uma opinião ligeiramente diferente tem Jennifer Senior, outra cronista do New York Times. No artigo “Sheryl Sandberg não pode ter tudo”, a cronista admite que, até há pouco tempo, Sandberg era um ícone feminista mas que tem cometido erros de palmatória, por se recusar a enfrentar os erros de frente. Pelo meio há inclusive referências à sua sala de conferências no Facebook, chamada “Só boas notícias” e, ainda, críticas claras à contratação de uma empresa de relações públicas que pôs a circular a tal ligação falsa dos críticos do Facebook a George Soros. “Sandberg também tem sido protegida, pela sua mágua e pelo seu estatuto de mulher líder num cenário de homens, talvez esse seja o maior paradoxo”, indica Jennifer Senior.
Fora dos eventos públicos
No meio da polémica mais recente, Zuckerberg continua a recusar participar em eventos internacionais. O líder do Facebook não quis estar presente num encontro com deputados britânicos, que se realiza esta terça-feira, em Londres, com representantes do Brasil, Argentina, Canadá, Irlanda, Letónia, Reino Unido e Singapura. A reunião ocorre para tentar saber mais sobre as práticas do Facebook em relação ao grave problema das fake news, principalmente em períodos eleitorais. Será o vice-presidente do Facebook, Richard Allan, a marcar presença.
Aos 34 anos, Zuckerberg, de polémica em polémica, atravessa o período mais complicado como CEO do Facebook, estando também sobre o seu jugo o WhatsApp e o Instagram (agora de forma mais evidente com a saída recente dos fundadores). O responsável da maior rede social do planeta, com 2,2 mil milhões de utilizadores, até já teve um filme para contar a forma atribulada como criou o Facebook. Em A Rede Social, Zuckerberg surge como um peculiar, pouco simpático e de intenções nada altruístas geek pelo olhar do realizador David Fincher. Mas nem o tom do filme, que mostra um Zuckerberg vingativo e birrento, tirou-lhe a alegria de ter um filme sobre ele, ao ponto de ter organizado visionamentos para os funcionários do Facebook. Mais de uma década depois ter ficado popularizado o seu cartão profissional, que dizia um agressivo, “I’m CEO, Bitch”, Zuckerberg sofre como nunca no cargo que lhe permite gerir um Estado social de dimensões gigantescas.
Novas revelações à espreita?
Entretanto, o Parlamento inglês apreendeu documentos que podem implicar o Facebook na utilização irregular dos dados dos seus utilizadores. Mark Zuckerberg tem-se recusado, em várias solicitações, a testemunhar perante os deputados britânicos e, de acordo com o The Guardian, os documentos, que fazem parte de uma ação da empresa Six4Three contra o Facebook nos EUA, foram obtidos após uma passagem do seu CEO por Londres.
“Regulem o Facebook: Eles são os novos cigarros, são viciantes”