Conferência Collision from Home já começou e, tudo indica, é o ponto de partida para Web Summit em formato ‘híbrido’ ou apenas online que pode ter até 140 mil pessoas. Estivemos no dia 1 do evento que antecede a Web Summit e contamos a experiência “que pode criar um novo patamar para as conferências online”.
(atualização a 24 junho: entretanto a Web Summit oficializou que evento será online e offline e decorre este ano de 2 a 4 de dezembro)
O primeiro grande teste da empresa que gere a Web Summit no mundo das conferências online começou esta terça-feira, com o Collision from Home. O evento que era suposto decorrer pelo segundo ano seguido em Toronto, no Canadá – é a Web Summit da América do Norte -, passou para o formato online (foi anunciado logo em março) e serve como uma espécie de teste para o evento de novembro em Portugal.
Paddy Cosgrave – com o aval do Governo português e do município de Lisboa (no início do mês admitiu que a decisão seria de Portugal) – anunciou a semana passada que a Web Summit 2020 irá mesmo realizar-se em novembro ao vivo em Lisboa. Ficaram por dar os pormenores sobre o evento em plena pandemia, algo que começa agora a ser aos poucos revelado também com o teste da conferência Collision.
Tudo indica, será difícil a Web Summit repetir ou mesmo aproximar-se dos 70 mil participantes presenciais que se tem visto no evento nos últimos dois anos em Lisboa – na verdade, Cosgrave já admitiu que até desejava que esse número já tivesse sido maior. O que o teste da Collision permitirá, assim, é criar dois tipos participantes, online e presenciais, isto se a opção não passar mesmo por convidados em formato presencial e público em geral no formato online.
O otimista Paddy Cosgrave diz-nos que só esta quarta-feira serão revelados oficialmente mais alguns pormenores sobre a Web Summit de novembro, mas já deixou escapar no Twitter que acredita que é possível ter online o dobro das pessoas que participaram na Web Summit (offline) de 2019, ou seja, até 140 mil.
If Collision works for most attendees online, I think 2x as many people will attend Web Summit in 2020 online, than attended Web Summit in 2019 offline
It will be the best of both world's for Portugal. 2x the attendees, at zero risk to health in Portugal
Food for thought?
— Paddy Cosgrave (@paddycosgrave) June 23, 2020
“Será o melhor de dois mundos para Portugal, duas vezes os participantes e com zero risco para a saúde em Portugal”, diz Cosgrave.
Já a maior feira de eletrónica de consumo da Europa, a IFA de Berlim, mantém o evento presencial de setembro mas de forma ultralimitada, com mil participantes por dia (costumam ser dezenas de milhares) e fechado ao público em geral – e fazendo algum uso de ferramentas online para a generalidade do público habitual.
Dos bugs ao “feedback incrível”: Collision arrancou
A cumprir o horário do Canadá, a Collision from Home arrancou esta tarde, pelas 15h, com vários bugs iniciais e dificuldades para alguns dos 31 mil participantes inscritos (de 141 países) em aceder à web app que alimenta a experiência de conferência online – em conjunto com a app móvel da Collision. Os problemas iniciais eram algo expectável, diz Cosgrave, já que a plataforma de conferência integrada numa web app e que é feita pela equipa da Web Summit – liderada pelo engenheiro português João Soares – nunca tinha sido testada com tantas pessoas.
“Quando escalamos software desta forma, por mais testes que façamos, nunca podemos prever o comportamento em cada área da web app”, explica Cosgrave. Certo é que os problemas parecem ter passado rapidamente – foi precisamente esse o nosso caso, depois de alguns minutos com erros que dificultavam a entrada na plataforma. “Passado a primeira hora encontrámos a maioria dos bugs tanto na web app como na app móvel e resolvemos tudo em tempo recorde”, adianta Cosgrave.
Passado umas horas de evento, o CEO da Web Summit revela que “o feedback tem sido incrível”, inclusive de alguns dos principais responsáveis de tecnológicas do mundo. “Para muitas pessoas o que conseguimos coloca num novo patamar as conferências online“.
Já no verão do ano passado o líder do evento com contrato assinado para continuar em Lisboa até 2028 – a troco de 11 milhões de euros por ano – dizia-nos que um dos objetivos iniciais da Web Summit foi criar uma plataforma de software para conferências que pudesse ser ‘alugada’ a outros eventos. Agora, Cosgrave enfatiza isso mesmo explicando que já hoje foi contactado por outras empresas e conferências, inclusive pelas Nações Unidas, para puderem usar o software agora testado para eventos online.
Nesse domínio, Cosgrave admite que o investimento no início do ano na londrina Hopin, uma startup especializada em conferências online, foi estratégico mas o software usado no Collision é apenas da sua equipa na Web Summit.
Certo é que esta quarta-feira serão disponibilizadas e testadas mais algumas novidades e funcionalidades no evento online focado no networking. O irlandês de 37 anos congratula-se mesmo por existirem centenas de pessoas durante as conferências a terem conversas-vídeo mesmo durante as conferências nos muitos ‘palcos’ virtuais.
“Estou surpreendido com a quantidade de pessoas que prefere estar a fazer networking por vídeo em vez de ouvir os oradores (…) parece que o comportamento natural das pessoas numa conferência online é NETWORKING quando damos às pessoas essa opção e não necessariamente consumir o conteúdo”, diz.
E como é a experiência? Vamos fazer o relato da experiência completa no final da semana, mas resumimos da seguinte forma: a app móvel é uma espécie de auxiliar para escolher conferências e pessoas de interesse, permitindo comunicar e também, se quisermos, assistir a alguns dos palcos, mas o principal da ação passa-se na web app, para usar num computador ou tablet. A organização dos palcos existentes e possibilidades de networking é muito semelhante ao evento presencial.
Há o Canal 1, uma espécie de palco principal, onde decorrem as principais conferências, depois Canal 2, Canal 3, Rádio Collision (onde há pequenas entrevistas e conversas paralelas), Classic talks (conversas de Web Summits anteriores) e workshops (onde é possível aprender algumas técnicas com vários parceiros).
A lista de eventos em simultâneo é bem grande, por isso é preciso escolher o que queremos ver. Cada conferência remota tem a zona de vídeo, mas permite reações do público por baixo, com sorrisos, palmas, polegares para cima e para baixo e tomates (sim, leu bem, tomates) – também é possível desligar as reações. Ao lado do vídeo podemos ver quem assiste (os nossos contactos aparecem por cima) e conversar numa sala de conversa ligada a cada ‘palco’.
Depois podemos interpelar qualquer participante e convidá-lo para uma conversa-vídeo ou mesmo agendar uma conversa. No topo existe precisamente a secção de Explore, pode podemos procurar participantes, startups e parceiros do evento que interesse conhecer ou contactar. A seção Breakout permite participar em sessões Q&A (perguntas e respostas) com um dos oradores, entrar numa masterclass com um especialista ou entrar em grupos de conversação criados – existe, por exemplo, um só para Portugal. Por desbloquear estão opções como Salas de Parceiros e as chamadas Salas de Comunidades.
Uma experiência mais completa do que é habitual na maioria de conferências online a que temos assistido. A única que se aproxima desta nível de opções foi a conferência de realidade virtual VR/AR Global Summit Online, no início do mês, que usou a plataforma da Hopin.
Vimos várias vezes mais de 3500 pessoas a assistir ao Canal 1 (o palco principal), mais de duas mil a assistir ao Canal 2 e mais de mil no Canal 3. Cosgrave admitia a meio da tarde que chegaram a estar 7 mil no Canal 1 e 15 mil em simultâneo a assistir aos canais das conferências.
O primeiro dia do evento contou com responsáveis da Netflix, Google, Microsoft, Box, Booking.com, eBay, bem como médicos e investigadores de saúde pública e personalidades como Shaquille O’Neal.
Tudo ficou concluído ao final da noite em Portugal com uma declaração de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, que apelou ao mundo tecnológico para colocar a sua experiência e talento ao serviço de uma melhor saúde pública em tempos de pandemia, com o máximo de responsabilidade e ética possível.
Amanhã há mais (incluindo os tais anúncios sobre a Web Summit em Lisboa). O evento termina na quinta-feira, 25 de junho.
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