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O fundador, mentor e presidente do concelho de administração do Alibaba Group espalhou lições de empreendedorismo e de vida no VivaTech, onde estivemos.
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Jack Ma confirmou a reforma do Grupo Alibaba para se dedicar à profissão para o qual se formou: quer ensinar.
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“O molho secreto do Alibaba? As lideranças femininas”
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“Não pensem em ter sucesso no próximo mês ou ano, senão vão rapidamente abaixo. Têm de ter paciência e focar-se no que valha a pena em 10 anos”.
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Pode ler a primeira parte da participação de Ma na conferência aqui.
As suas palavras têm eco um pouco por todo o mundo. É chinês, mas há muito que fascina noutras latitudes. Jack Ma, tem 54 anos e é o líder do Alibaba Group, o maior marketplace do planeta, superior à gigante Amazon, mas que tem mais serviços, da Cloud, aos pagamentos, passando pelos dados analíticos e afins. O gigante chinês já começou a alargar as suas operações há vários anos e continua a crescer na Europa.
E como chegou lá? “Com uma ideia do que deveria ser o futuro”. No principal palco da VivaTech, evento rival da Web Summit que chegou agora à 4ª edição (decorreu da passada quinta-feira a sábado), o homem de baixa estatura explicou a Maurice Lévy, CEO do grupo Publicis, o seu percurso ascendente notável.
“Comecei sem dinheiro, sem tecnologia, do meu apartamento”. Então o que tinha? Mesmo só com formação “de professor de liceu”, ele e os seus co-fundadores tinham uma crença no futuro, uma ideia de qual seria o caminho para um futuro melhor”. Daí que Ma garanta que um empreendedor tenha de ser especialista em “negas, erros e em falhanços”. “Temos de nos habituar a levar negas constantes, de investidores e clientes. Se continuamos a acreditar na nossa ideia de futuro, temos de acordar no dia seguinte determinados em convencer as pessoas com os passos certos”.
Mas antes de convencer os investidores: “primeiro estão os nossos funcionários, têm de acreditar no que fazemos, depois os clientes são a prioridade e os investidores estão no fundo da linha”. “Gastem o tempo e o dinheiro que têm nos clientes, na vossa equipa, não gastem nos investidores nem na concorrência”.
“O molho secreto do Alibaba? As lideranças femininas”
Começou o Alibaba (nome tirado ao livro de contos sonhadores As Mil e Uma Noites) há 20 anos, em setembro de 1999. Na altura só queria ter 18 parceiros para abrir um marketplace online. “Reunimos 15 mil dólares, achávamos que conseguíamos durar 10 meses. Acreditávamos que a internet ia mudar a China e o mundo e sabíamos que, se não fôssemos bem sucedidos, alguém seria por nós”. Desse ponto de partida, tentou encontrar as pessoas certas, fazer os passos certos.
“Agora, como empresa grande, temos uma responsabilidade ainda maior, ao ajudarmos a criar 40 milhões de empregos e vários milhões de empresas a sobreviver e isso é algo que nos satisfaz e nos distingue até como seres humanos, em relação à inteligência artificial: se não tivermos e apostarmos nos nossos sonhos nunca venceremos as máquinas no futuro”.
Sem conhecimentos de marketing ou tecnologia, o que deu à sua empresa foi uma cultura com outras valências: “o que sei é sobre pessoas e com a minha formação de professor quero é que os meus alunos sejam melhores do eu, por isso, escolho sempre as melhores pessoas, ouço-as, dou-lhes poder e faço por colaborarmos em equipa”. O seu foco inicial foi preocupar-se com os seus funcionários. “É dessa forma que eles também se vão preocupar com a nossa visão para a empresa, porque participam no caminho e podem alterá-lo e, assim, também fazem os clientes felizes”.
A sua luta na próxima fase da carreira vai continuar a ser lutar pelas lideranças femininas, mesmo que o novo CEO para o Alibaba Group seja uma mulher. “Se tivermos mais mulheres líderes o mundo será melhor, não tenho dúvidas disso.” Porquê? “Porque trazem outra visão do mundo para a mesa e esse é mesmo o molho secreto do Alibaba: temos 43% de mulheres na liderança e 35% dos funcionários em geral”.
Ser empreendedor. O que vale a pena em 10 anos?
Jack Ma lembra com frequência que a vida é curta e deixa já conselhos aos futuros empreendedores, antes de caminhar para o ensino. “Não pensem em ter sucesso no próximo mês ou ano, senão vão rapidamente abaixo. Têm de ter paciência e focar-se no que valha a pena em 10 anos”. Noutro conselho, pede que dêem força à competência: “se alguém na equipa for melhor que vocês em alguma área, sigam-no a ele”. Nesse domínio, o foco deve dividir-se “com um olho na equipa e o outro nos consumidores” e, depois, “trabalhem”. “Partilhem o que pensam com a vossa equipa para seguirem o mesmo caminho, ninguém quer trabalhar com pessoas que só querem dinheiro”.
Daí que quando foi CEO do Alibaba, as siglas “significavam “Chief Education Officer”, explica em tom de brincadeira. “Sempre procurei pessoas melhores do que eu para a empresa. Tal como numa universidade, aprendemos uns com os outros e estudantes e professores têm de confiar para tudo resultar”. Noutro conselho, admite que quem quer avançar tem de avaliar bem “o que tem, o que quer e o que está disposto a abdicar”. “Se não pensarmos com frequência nestas perguntas, não vale a pena”.
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“Os nossos filhos não se devem preocupar em ter emprego”
Com 20 anos de Alibaba, celebrados em setembro, segue-se a reforma, onde vai voltar a ensinar. Garante que “não será só uma aula”. “O sistema de educação atual não é muito diferente do que era há 200 anos, no período industrial, mas agora estamos na era digital. Antes tentámos que as pessoas fossem máquinas, no próximos 30 anos vamos tentar fazer das máquinas pessoas. Elas vão poder fazer melhor do que nós quase tudo”.
Daí que queira mudar a forma como é feito o ensino: “há uma oportunidade enorme e pessoas como eu podem ajudar, e quero fazê-lo porque sou apaixonado por isso”. Ma admite projetos na área pagos com dinheiro ganho com o Alibaba. “Não quero que o dinheiro do Alibaba vá para investidores, prefiro por em projectos destes”. E, embora 54 seja a idade para muitos se tornarem CEO, Ma, que terá 55 quando se reformar, quer sair nessa altura, depois de ter criado sete empresas bem sucedidas. “Há 10 anos que preparo a minha reforma, daí procurar alguém melhor do que eu para continuar”. O objetivo é que o Alibaba Group faça 102 anos, assim, “vamos atravessar três séculos, o XX, o XXI e o XXII”.
É desta forma que admite que soluções como o rendimento universal garantido podem ser solução a ter em conta. “Os nossos filhos não se devem preocupar em ter emprego, especialmente numa era de IA e robótica”.
Os sonhos em África, sem medos
Jack Ma explica como têm feito alguns projetos em África e admite que saiu de lá inspirado e emocionado depois de uma visita há dois anos. “Os jovens lá não têm medo, falam do futuro e nos seus sonhos, enquanto as grandes empresas só falam na concorrência e nos resultados. Eu prefiro falar do futuro. A verdade é que somos o mesmo animal em qualquer lugar do mundo”. Certo é que a internet “pode fazer toda a diferença em África porque lhes dá acesso a coisas que nunca tiveram e até de forma bem rápida”. Por isso considera importante “conectar o continente”, até porque “os smartphones depressa se tornaram muito mais poderosos do que um computador”, até porque a maioria no continente nunca teve computador mas já começa a ter telefone ligado à internet.
Ma fala no que chama nos três “E” como caminho permitido pela era móvel dos smartphones: “egovernment (acesso online aos serviços do Estado) que traz eficiência sem precedentes; empreendedorismo para criar um futuro melhor; educação que ajuda em tudo o resto”.
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