A tecnologia já nos liga em rede de uma forma inédita, mas à medida que invade as nossas casas e o nosso dia a dia, as potencialidades para nos facilitar a vida são ilimitadas. Bem-vindo ao mundo da Internet das Coisas (IoT), “que irá revolucionar o nosso estilo de vida”.
Chegar a casa, ver a porta a abrir-se só para nós (graças ao reconhecimento facial) e um assistente pessoal sob a forma de uma voz que ecoa na zona da casa em que estamos a dar-nos as boas-vindas, dizer-nos a nossa agenda pessoal ou a sugerir o que podemos ver ou ouvir no serviço de streaming de vídeos ou músicas e onde um robô ou uma mão robótica nos serve a nossa bebida preferida para aquela altura do ano.
Esta é uma realidade que, embora já seja possível, ainda não existe de uma forma tão simples, fluída e automática, pelo menos para a maioria. Mas é esse o caminho que seguimos com o que se chama de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). O conceito não é novo, mas só agora, na era da internet e da inteligência artificial é que começamos a sentir verdadeiramente as suas vantagens com o aumento dos equipamentos de eletrónica ligados à internet – do smartphone, ao frigorífico passando pela máquina industrial. “O potencial do IoT só agora é se começa a ver no dia a dia”, explica Remy Mandon, vice-presidente da divisão Watson IoT da IBM.
Manuela Veloso, uma portuguesa que é considerada uma das gurus mundiais em robótica e inteligência artificial – investigadora e professora da Collegie Mellon University e que gere a divisão de investigação do maior banco norte-americano, o JP Morgan -, concorda. “Evoluiu-se imenso nos últimos anos e agora temos muito mais conhecimento e dados que permite o IoT e a tecnologia em geral tornarem-se cada vez mais revolucionários no nosso estilo de vida”.
Nesse contexto, a chegada do 5G vai ajudar as máquinas a comunicarem cada vez melhor, de forma mais fluída (sem latência) e fiável umas com as outras. E quais os maiores desafios nos vários sistemas com inteligência artificial na atualidade? “O ‘cérebro’ das máquinas “busca melhor do que o dos humanos, mas explica pior como lá chegou, é isso que estamos a tentar melhorar”.
Na prática, os algoritmos de aprendizagem automática permitem ‘fazer sentido’ da grande quantidade de dados que as empresas produzem. E ainda há tempo, mesmo para as empresas que nunca olharam para a recolha de dados como uma parte importante do seu negócio. “A inteligência artificial já é uma parte do IoT. Há muito poucos casos que não usam inteligência artificial. Mais uma vez: é sobre recolher dados e o que faço com eles”, explica o responsável da IBM Remy Mandon.
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E que aparelhos já existem?
Manuela Veloso admite que já não vive sem a sua assistente pessoal digital – a Alexa, da Amazon -, ao ponto de lhe pedir que ative o seu robô aspirador iRobot Roomba. “Já não aspiro a casa há anos”, admite. Os assistentes digitais, como a Siri (Apple), Alexa (Amazon) e ou a Google Assistant (que é atualmente a que está presente em mais produtos) são já uma das tendências tecnológicas mais significativas e o seu potencial é ilimitado. Hoje já esse tipo de assistentes digitais (na maioria das vezes assume a forma de uma coluna), já se relaciona com vários produtos para a casa.
Alguns dos produtos mais populares da atualidade são para tarefas tão simples quanto controlar à distância o termostato do ar condicionado da casa – o mais popular é o Nest, que foi comprado pela Google e é controlável por app – ou gerir a iluminação, onde a Signify (ex-Philips) tem algumas soluções que nos permite controlar a luminosidade ou até a cor das luzes, definir horários, tudo por app ou por comandos de voz para a assistente digital. Isto além de controlar as câmaras de vigilância, por exemplo.
Ainda recentemente, empresas como a LG ou a Samsung lançaram (alguns ainda estão em fase de protótipo) este tipo de aparelhos que comunicam com os assistentes digitais dando informação e recebendo ordens para fazer tarefas de forma automática.
No caso da LG, além de um frigorífico que nos avisa se há algo em falta – no fim de contas até pode encomendar de forma automática, por exemplo, leite se analisar que está a acabar -, há também forno, televisor ou microondas ligados em rede e que atuam por comandos de voz. Mas também não falta um roupeiro que seca e alisa a roupa, um purificador de ar, ou sistema de cortinas ou abertura de portas inteligente. Já existem inclusive robôs ligados em rede, como o peculiar cão Sony Aibo.
Em breve, os próprios automóveis, que já começam a comunicar uns com os outros e com sistemas centralizados, vão comunicar com a nossa garagem para indicar que estamos a chegar e abrir o portão com a nossa aproximação. Na verdade tecnologia já existe, só falta que cheguem produtos ao mercado global. Estima-se que durante este ano passem a ser 26,6 mil milhões de aparelhos IoT no mundo, num mercado que já vale 1,7 biliões de dólares – em 2025 deverão ser 75 mil milhões de aparelhos, metade deles vindos do setor da saúde – que devem gerar 79,4 zettabytes de dados.
A investigadora Manuela Veloso explica que o nível de ajuda pode ir bem além das mordomias caseiras ou de sistemas inteligentes como os usados pela Uber, que nos indicam em tempo real onde estão os motoristas, quanto custa a viagem e quanto tempo irá demorar. “No fim de contas os sistemas inteligentes trazem uma eficácia sem paralelo para as nossas vidas e, usando dados partilhados, podem dizer-nos a melhor escola para o meu filho (analisando a zona onde vivo, o que a criança gosta de fazer e a escola mais bem classificada)”.
A investigadora admite que esse sistema de previsão pode ser precioso a dizer “onde devo ir de férias, onde estudar, que medicamentos devo tomar (consoante a minha fisionomia) ou até que prato de um menu de restaurante devo escolher, com base no que gostamos e nos faz bem à saúde”.
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