Líder da empresa que faz os robôs mais ágeis do mundo deixou o seu cão robô (ao estilo Black Mirror) à solta na Web Summit e explicou como será o futuro da robótica.
Passou pelos corredores de acesso à Altice Arena, por entre o público (onde recebeu festas e palmas) e subiu até ao palco sozinho para ir ter com Marc Raibert, o seu ‘pai’. O Spot, o cão robô da Boston Dynamics, foi uma das estrelas no palco principal da Web Summit esta tarde, demonstrando com um à vontade impressionante a agilidade atlética que tornou a empresa norte-americana numa referência mundial – os seus vídeos com acrobacias tornam-se rapidamente virais.
Raibert, o excêntrico líder da Boston Dynamics que usou a sua filha bebé para tirar noções de equilíbrio para os seus robôs, falou das três jóias da coroa da empresa que pertence agora ao gigante japonês Softbank (já pertenceu à Google), duas versões do Spot (o SpotMini já está à venda) e o humanoide e “Lamborghini” da empresa, Atlas.
A Boston Dynamics foca-se, para já, na inteligência artificial (IA) atlética e não tanto na cognitiva, ou seja, a parte que nos humanos diz respeito à forma como operamos os nossos corpos, nos equilibramos em duas penas, como corremos e escalamos coisas. “É aquilo que nos deixa preservar energia e depois ir mais longe, ter noção do que nos rodeia em tempo real e nos permite desviar de objetos ou improvisar, ao nível de atleta”, explica Raibert, que usou a natureza para ensinar os seus robôs.
Esse tipo de inteligência desenvolvido pela empresa “ainda não está ao nível dos animais mais atléticos”, mas já esteve mais longe e a nível de improviso e equilíbrio estão cada vez melhores inclusive na neve, que é frequente em Boston.
No caso do Spot, é a tentativa da empresa de imitar um chita, embora seja visto como um cão. “Ainda não é tão rápido quanto a chita, mas usa muitos dos conceitos no controlo dinâmico de aceleração e equilíbrio que são elementos fulcrais”, diz.
Em apenas um mês a Boston Dynamics teve 3500 pedidos de compra para o Spot. O preço “é ao nível de um carro de luxo”, mas a ideia é baixar no futuro. A empresa analisa os pedidos de empresas e depois define os pormenores, consoante os medidos, já que cada modelo pode ser personalizado, ter braços ou outros acrescentos (para soldadura, por exemplo) e transportar até 14 kg (a autonomia anunciada é de 90 minutos). “Estão a ser produzidos mil Spot e são vendidos ao mesmo ritmo que os conseguimos fazer.”
O objetivo é que este cão robô, ou chita robô, possa ser, para já, uma ferramenta de trabalho ágil e pode ser usado “na segurança, construção, entretenimento” ou até para desmontar bombas ou dançar com ginastas no Cirque du Soleil.
Raibert, que é amigo pessoal da portuguesa Manuela Veloso, uma das referência mundiais em inteligência artificial e que está agora na JP Morgan, acrescentou: “Até o twerk faz e anda a 5 km/h, a velocidade de um humano”. Tem câmaras à frente, atrás e uma de cada lado e sensores, que usa para contornar objetos e andar de forma autónomo por uma espaço. Tem um LIDAR (que inclui um radar), Wi-Fi e a possibilidade de programadores criarem software para lhe dar novas habilidades.
O responsável deu ainda o exemplo do humano sentado à mesa de jantar, que precisa de se esticar para ir buscar o copo de água, “um robô como o Spot consegue usar o seu corpo para extender mais o seu braço o que torna o seu corpo mais eficaz do que vemos em humanos”.
O modelo está já em testes com empresas e parceiros, com Raibert a dar o exemplo de uma refinaria de petróleo britânica: “conseguimos ir a sítios onde robôs normais não conseguem, já com sensores que tiram medidas 3D”.
Outro dos exemplos dados em palco foi para jogos em que pessoas “guiam” o robô como um video jogo, mas real. “Tivemos filhos dos nossos funcionários a aprender a guiar um robô em 12 segundos, é muito fácil porque o robô é muito autónomo e a tarefa de o guiar é bem simples”, disse. Tiveram ainda um workshop com o Cirque du Soleil para perceber como robôs e pessoas podem trabalhar em conjunto em espetáculos.
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Atlas, o futuro ainda sem vendas
O ágil humanoide Atlas ainda está em desenvolvimento e sem datas para ser lançado, mas o potencial é “enorme” para tentar perceber melhor a agilidade humana e animal e aplicá-la à robótica ao serviço de empresas e pessoas. Pode ser útil em cargas de descargas, bem mais eficaz do que os sistemas atuais em que humanos operam máquinas para descarregar caixotes, indica Raibert. “Ainda é só um protótipo mas estamos entusiasmados com o progresso dos usos que podemos dar ao sistema visual que o Atlas tem porque não é só um braço robótica, é muito mais”.