Andy Jassy. Sucessor de Jeff Bezos fincou carreira na nuvem

Andy Jassy, CEO Amazon
Andy Jassy assumirá a liderança da Amazon no terceiro trimestre do ano. Foto: AFP

Fundador está de saída da liderança da Amazon ao fim de 27 anos. Deixa o lugar de CEO ao seu discípulo.

De forma algo inesperada, a apresentação de resultados da Amazon fez correr tinta com uma mudança de cadeiras. Ao fim de 27 anos, Jeff Bezos vai abandonar a liderança executiva da Everything Store, a gigante do comércio eletrónico que fundou ainda nos anos 90. Andy Jassy, até aqui líder da Amazon Web Services, o braço da tecnológica dedicado à computação cloud, assumirá a liderança da Amazon no terceiro trimestre do ano.

“A Amazon é o que é por causa da invenção. Fazemos coisas loucas juntos que depois se tornam no normal”, explicou Bezos, indicando que, neste momento, vê a Amazon “no seu ponto mais inovador, o que faz que seja a melhor altura para esta transição”.
Esta será a primeira vez em que há uma mudança na liderança da empresa. Aos 53 anos, Andy Jassy, um nome discreto na indústria tecnológica, assume a posição de maior relevo numa Amazon que há muito deixou de ser “apenas” uma loja de livros online. A empresa que Bezos, o segundo homem mais rico do mundo, deixa a Jassy é agora uma unidade com tentáculos em diversas áreas de atividade – do retalho físico, com a Whole Foods ou as lojas self-service Amazon Go, até à área da inteligência artificial, com destaque para a assistente digital Alexa, sem esquecer a pesada logística de entregas, que até já compra aviões a companhias aéreas para fazer frente ao aumento exponencial de encomendas. E, já há alguns anos, a infraestrutura da AWS representa uma forte componente da internet: em novembro, quando uma falha perturbou o serviço houve consequente impacto em empresas e aplicações, desde a Adobe ou iRobot até ao gestor de passwords 1Password, entre tantos outros.

Andy Jassy trabalha há mais de 20 anos na Amazon – em entrevistas já revelou que nunca trabalhou para outra empresa além da Amazon. Saído da faculdade, no fim dos anos 90, ingressou na tecnológica e ganhou destaque na estrutura já no início dos anos 2000, quando a companhia começou a desenvolver as primeiras explorações daquilo que viria a tornar-se a AWS.

Citado pelo TechCrunch, Jassy refere inclusive que, “de forma discreta, perto de 2000, tornámo-nos numa empresa de serviços sem qualquer tipo de fanfarra”.

Descrito por alguns como o arquiteto da visão para a área cloud da Amazon, Jassy alavancou aquela que é uma das galinhas dos ovos de ouro da gigante tecnológica: em 2020, a AWS gerou receitas de 45 mil milhões de dólares e lucros de 13,5 mil milhões – mais de 63% dos 21,3 mil milhões de dólares de lucro anual da Amazon.

Concorrência australiana alerta que Google tem de tomar uma decisão sobre continuidade no país

Google, Alphabet
EPA/WALLACE WOON

O braço de ferro entre a Google e a Austrália continua, com uma disputa sobre o pagamento para utilizar conteúdos noticiosos no centro da questão. O responsável pela Concorrência na Austrália já alertou que a tecnológica terá de tomar uma decisão sobre a continuidade no país.

m declarações à estação televisiva CNBC, Rod Sims, líder da ACCC, a entidade responsável pela concorrência na Austrália, indicou que a continuidade da tecnológica no país “é uma decisão deles”. No mês passado, a Google ameaçou retirar o seu serviço de pesquisa da Austrália, após algum tempo de discussão.

No ano passado, a criação de uma lei na Austrália que obriga as plataformas digitais a pagar a meios de comunicação e publishers pelo uso de conteúdos noticiosos. A Google, que indexa vários conteúdos do género nos seus resultados de pesquisa, contestou, em várias ocasiões, a decisão. Há já algum tempo referiu inclusive que a decisão forcaria “a Google a disponibilizar uma experiência dramaticamente pior no Google Search e YouTube, que poderá levar os dados a serem entregues a grandes corporação de media e que o acesso a serviços gratuitos que os utilizadores usam poderá estar em risco na Austrália”.

À CNBC, Rod Sims, indicou que a entidade “não quer ver acontecer” um cenário em que a Google abandone a Austrália, mas que, em último caso, “é uma decisão deles”. “Mas, obviamente que, no fim do dia, não será possível ter uma negociação, uma política pública adequada, se se fizer aquilo que se quiser”, indicou. “Se depois abandonarem o país, seria algo lamentável, mas a decisão terá de ser tomada por eles”; concluiu.

O primeiro-ministro do país, Scott Morrison, já discutiu o tema com Sundar Pichai, CEO da Google e da Alphabet. As conversações sobre o tema continuam a decorrer, nota a CNBC.

Microsoft posiciona-se

Mas, caso a Google venha mesmo a abandonar o mercado de pesquisa da Austrália, onde tem uma posição dominante, acima dos 90%, há quem esteja interessado em ficar com essa fatia do mercado. A Microsoft, dona do motor de pesquisa Bing, tornou público o apoio ao governo australiano no tema dos meios de comunicação e plataformas digitais.

Numa publicação assinada por Brad Smith, presidente da Microsoft, foi divulgado que tanto Smith como Satya Nadella, o CEO da empresa de Redmond, já estiveram em reunião com o primeiro-ministro da Austrália sobre o tema. Em comunicado, a Microsoft indica que apoia a legislação, notando que é uma tentativa para “abordar o desequilíbrio entre as plataformas digitais e os negócios de comunicação australianos”, reconhecendo ainda que, embora “a Microsoft não esteja sujeita à legislação pendente, está disponível a viver de acordo com as regras que o governo defina”.

Além disso, a tecnológica promete que “os pequenos negócios que queiram transferir a sua publicidade para o Bing podem fazê-lo sem custos de transferência”, indicando que irá “investir mais para garantir que o Bing é comparável com os concorrentes”.

“Uma coisa é certa: enquanto outras empresas tecnológicas possam ameaçar sair da Austrália, a Microsoft nunca fará uma ameaça do género”, sublinha a Microsoft no comunicado.

De acordo com dados da Statcounter, o Bing tem uma quota de mercado de 2,71% (dados globais de janeiro de 2021). Já o Google domina o mercado, com 91,86%.

Google lançou plataforma de notícias, apesar da disputa

Mesmo com as discussões a decorrerem, a Google lançou no mercado australiano a plataforma News Showcase. De acordo com a informação disponibilizada, este lançamento deveria ter ocorrido em junho de 2020, mas foi adiado devido à proposta de legislação.

A plataforma conta com notícias que a Google pagou diretamente às empresas de media, nota a agência Reuters, numa tentativa de demonstrar que a legislação proposta poderá ser desnecessária, já que a tecnológica conseguiu chegar a acordo com algumas empresas. A plataforma conta com informação de sete meios de comunicação australianos.

A Austrália é o terceiro país a receber esta plataforma, depois do Brasil e da Alemanha.

França quer obrigar Google a pagar por uso de conteúdos noticiosos

O faroeste digital

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Fonte: Pixabay

O brilhante documentário da Netflix, intitulado The Social Dilemma, revela o grau de influência que a chamada Inteligência Artificial (IA) tem sobre a vida de todos nós, a omnipresença dos chamados algoritmos (necessários para a criação de qualquer programa de computador).

“This is checkmate on humanity”, afirma Tristan Harris, um dos entrevistados, ex-especialista em ética de design da Google e co-fundador do Center for Humane Technology.

Em causa está a chamada tecnologia persuasiva que assenta na explosão de informação contida na Internet e na eleição da atenção do utilizador como o bem mais valioso e disputado do mundo digital – atenção essa que é manobrada e dominada por algoritmos, detidos por entidades privadas, que filtram, seleccionam e promovem conteúdos, com base em prioridades neles pré-configuradas.

Passámos, dizem os economistas, da economia da informação para a economia da atenção, na qual a informação colhida pelos utilizadores, cuja atenção se cobiça, é manipulada por meio de algoritmos que alteram percepções e convicções, traçando, quiçá, os destinos do mundo.

Nalguns casos a presença e o potencial impacto de tais algoritmos são relativamente óbvios. Por exemplo, quando o Google Maps nos fornece 3 alternativas para ir de A a B, evitando engarrafamentos; quando residentes em pontos diversos do globo são apontados como compatíveis por sistemas especializados em matrimónios made by IA; quando se busca uma impressora no website da Amazon e emerge repentinamente um anúncio relativo a tinteiros etc. Noutros casos a presença e o impacto dos algoritmos são relativamente invisíveis. Por exemplo, quando é concedido (ou não) um empréstimo bancário; se obtém (ou não) certo emprego; acede (ou não) a determinada universidade, etc.

Mas o dilema vai além do social

Por exemplo, já vimos que as plataformas sociais podem ser transformadas em armas políticas e manipular entendimentos, ideias, convicções e votos; também sabemos que no plano da defesa e da segurança nacionais abundam os ataques a infraestruturas de informação estatais; e constatamos agora que plataformas como Google, Twitter, Youtube e Facebook estão a ser utilizadas para disseminação e amplificação de uma narrativa nem sempre fidedigna que se opõe veementemente à vacinação contra a Covid-19, pondo em risco a fundamental criação de imunidade de grupo.

A questão não é apenas social, mas multifacetada, requerendo acção legislativa internacional ou pelo menos regional, pois numa aldeia digital global cercas e vedações nacionais não montam a muito.

União Europeia por onde andas?

A UE não tem ignorando preocupações de foro jurídico e ético ligadas ao uso de algoritmos, tendo lançado, em 2019, guidelines éticos que contêm elementos essenciais para assegurar uma IA fiável, tais como a prevalência da autonomia humana, a privacidade e o controlo de dados pelos utilizadores, a transparência e a ausência de discriminação. Mais, em Outubro de 2020, o Parlamento Europeu aprovou três iniciativas que prevêem novas regras no domínio da IA, nos domínios ético, de responsabilidade civil e de direitos de propriedade intelectual.

Mas a Comissão Europeia tem de ir mais longe, tornando claro que em função do grau de dano que possam causar os algoritmos devem estar sujeitos a regimes jurídicos diferentes: uns devem ser simplesmente proibidos e outros alvos de controlo intenso, mediano ou praticamente nulo, por instituições criadas para o efeito.

Para melhor protecção do utilizador, a Comissão deve exigir, entre outras coisas: (i) transparência algorítmica, que requer entendimento quanto ao processo de funcionamento do algoritmo, (ii) prevalência do factor humano para certo tipo de temas, no processo decisório em si ou sob a forma de revisão da decisão; (iii) aplicação opcional do algoritmo pelo utilizador e (iv) criação de um órgão independente para efeitos de monitorização contínua.

E o que pode Portugal fazer até lá para assegurar o mínimo de soberania no contexto algorítmico?

O Estado português deve lutar para que os sistemas de IA utilizados em infraestruturas críticas, como saúde, telecomunicações, energia, e defesa sejam made in Portugal. O cenário ideal é este. Até lá o Estado deve, pelo menos, garantir que sistemas de IA cruciais se encontram sujeitos a regulamentação, fiscalização e controlo nacionais.

Siga-se no mínimo o exemplo de Ronald Reagan, o 40º Presidente dos EUA, que invocava um ditado russo, “confie, mas verifique”, no âmbito de discussões com representantes da União Soviética relativas ao desarmamento nuclear. O Estado português que confie, mas que não deixe de regulamentar, de fiscalizar e de controlar.

Conclusão

O mundo da IA está longe de ser perfeito e a democracia digital precisa de despontar. Que mão embala o algoritmo? Que qualificações tem? É escrutinável sequer? Que normas cumpre? E quem as dita? As empresas privadas cingem-se na prática a preceitos feitos por si? Quem está do outro lado da linha? Podemos não saber quem está do outro lado da linha? Podemos ficar reféns de cowboys?

A disrupção democrática chegou ao digital, qual faroeste. Há linhas que precisam de ser traçadas e tal missão não cabe nas atribuições conhecidas de nenhuma direcção geral, de nenhum ministério, de nenhuma ordem profissional, de nenhum organismo conhecido e muito menos estão os Parlamentos em condições de nada que não seja legislar. E usamos o termo Parlamentos no plural, porque isto não é sequer matéria de um só país.

Sob pena de acordarmos um dia destes para uma realidade já sem remédio, convém começar a fazer perguntas e a traçar fronteiras como respostas, só possível no quadro tradicional democrático que (ainda) temos, com pessoas de rosto conhecido, escrutinado, sobre as quais pendem sempre os holofotes.

Nota: As autoras não escrevem de acordo com o novo acordo ortográfico.

Patricia Akester é fundadora do Gabinete de Propriedade Intelectual/Intellectual Property Office (GPI/IPO) Associate, CIPIL, University of Cambridge e Carina João Oliveira é CEO da Insignare – Associação de Ensino e Formação, tendo sido deputada nas XI e XII Legislaturas.

Salários nos empregos tecnológicos a disparar em 2021

    Salário programador portugal
    Foto: Csaba Balazs / Unsplash

    Em Portugal, há saltos de até dez mil euros no teto salarial das profissões mais procuradas, como data & analytics manager, que pode chegar agora a receber 80 mil euros ao ano.

    É um dos poucos setores em contraciclo económico. Nas tecnologias de informação (TI), a escassez de talento disponível, ainda muito abaixo da procura, continua a fazer mexer os intervalos salariais em Portugal.

    Pelos números da consultora Robert Walters, os salários das profissões das TI continuam a subir este ano, tendência que tem sido visível ao longo dos últimos anos. Há três perfis tecnológicos em destaque em 2021: data & analytics manager, DevOps engineer e cyber security manager. Os números da consultora resultam de um inquérito anual, que estabelece intervalos salariais anuais, divididos pelos anos de experiência (entre dois e cinco anos, cinco e dez anos e dez ou mais anos de experiência). Devido à novidade de alguma destas profissões no mercado, a área de dez ou mais anos de experiência nem sempre existe.

    Para este ano, especificamente entre os três perfis mais procurados, as melhores remunerações em início de carreira pertencem aos data & analytics manager, com um intervalo salarial entre os 65 mil e os 80 mil euros anuais. Feitas as contas, a remuneração mensal destes profissionais poderá ultrapassar os 5700 euros, no ponto máximo do intervalo. No ano passado, o intervalo estava entre os 68 e os 70 mil euros anuais (2 a 5 anos de experiência).

    Já entre cinco e dez anos de experiência, a remuneração anual de um data & analytics manager varia entre os 90 e os 100 mil euros anuais. No melhor cenário possível, feita a divisão por 14 meses, o salário mais alto para este tipo de experiência ultrapassará os 7100 euros. Face a 2020, o intervalo salarial aumentou dez mil euros.

    No caso de DevOps engineer, entre dois e cinco anos de experiência, o teto máximo subiu cinco mil euros face a 2020, ficando agora entre os 50 e os 60 mil euros. Até dez anos de experiência este tipo de profissional poderá ganhar entre 70 e 85 mil euros.

    Por mês, a remuneração mensal rondará os seis mil euros, extremo máximo do intervalo.

    Por fim, a completar o top 3, um perfil ligado à área da segurança: cyber security manager. A Robert Walters estima que, com um máximo de cinco anos de carreira, em 2021 o salário anual possa estar entre os 35 a 45 mil euros. Já com até dez anos de experiência, um profissional destes poderá ganhar entre 55 a 70 mil euros por ano.

    Note-se que, entre os três perfis mais procurados, esta é a única profissão com mais de dez anos de experiência. Nesta situação, este perfil poderá ganhar entre 75 a 90 mil euros por ano.

    Testers e analistas de qualidade recebem menos

    A lista de intervalos salariais anuais da Robert Walters é extensa, contemplando áreas como gestão, desenvolvimento, produto, vendas, ERP (software de gestão de processos), segurança, data e analítica, administração e infraestruturas.

    Entre dois e cinco anos de experiência, são os testers e QA analysts (analistas de qualidade) quem menos recebe: entre 25 e 35 mil euros anuais. Ou seja, um salário mensal poderá ficar pelos 2500 euros, no máximo. Note-se ainda que esta é das únicas profissões da tabela onde não há previsão de aumento salarial em 2021, em nenhum dos diferentes anos de experiência.

    Com até uma década de experiência, um tester/QA analyst poderá ganhar 45 a 50 mil euros por ano.

    Já no outro extremo, as melhores remunerações numa fase inicial de carreira pertencem aos DevOps engineers (entre 50 a 60 mil euros, uma subida de cinco mil euros), aos data architects (55 a 65 mil euros/ano) e aos data scientists (50 a 80 mil euros anuais).

    Chief information officer com baixa de salário

    De acordo com a tabela salarial disponibilizada, na área da gestão, chief information officer é das poucas profissões com redução de salário anual em 2021. Se em 2020 o intervalo salarial variava entre 95 e 125 mil euros, neste ano a remuneração anual passa a ser de 90 a 120 mil euros.

    Já na área de desenvolvimento, há uma relativa estabilização dos salários, como é o caso dos OutSystems developers, que continuam com os intervalos salariais iguais aos de 2020. Com dois a cinco anos de experiência, o salário anual varia entre 30 r 45 mil euros; 45 ra 55 mil euros anuais até dez anos de experiência e, em fases mais avançadas, entre 55 e 75 mil euros.

    Salários abaixo do que se paga no norte da Europa

    Apesar de muito acima da média nacional, as remunerações da área da tecnologia em Portugal ainda estão abaixo dos valores do norte da Europa. Ruben Vidal, head of IT da Robert Walters, partilha que muitas destas profissões têm “salários mais globais”, tendo em conta que “muitos dos trabalhos são feitos de forma remota”. Há até quem aproveite para trabalhar para empresas nórdicas a partir daqui, fazendo uso do baixo custo de vida em Portugal.

    “Uma boa ideia é viver em Portugal, devido ao custo de vida, e ter um contrato com uma empresa norte-americana, por exemplo, ou com países do norte da Europa, que normalmente têm salários mais altos do que em Portugal”, exemplifica. “A maioria dos talentos que está a vir para Portugal vem por essa razão, pelo reduzido custo de vida.”

    Num momento em que o trabalho remoto quebrou distâncias, Ruben Vidal nota que “não é muito comum encontrar trabalhos totalmente remotos em Portugal”, mas que a “pandemia tem permitido às empresas mudar do modelo tradicional para começar a apostar em novas alternativas”. Uma delas são modelos mais flexíveis, algo que para o head of IT da consultora deverá estar em cima da mesa. “Temos de ser mais orientados para objetivos e não gastar horas sentados num escritório”, sublinha.

    Para fazer frente à procura de talento nas TI, Vidal nota a importância de apostar no “talento da América Latina e América do Sul”. “Acho que é um fator-chave, há candidatos muito bons nessas regiões e temos de tornar as coisas mais fáceis, não só para Portugal mas também para Espanha e o resto da Europa. Temos de tentar aproveitar esses profissionais talentosos e trazê-los para aqui, onde temos uma elevada procura.” No entanto, a atual situação de pandemia cria entraves. “Com a situação atual, todos os trâmites estão a demorar demasiado tempo e precisamos de fazer as coisas mais depressa.”

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    Podcasts: Às gigantes tecnológicas já não basta dar-nos música

    podcast, microfone
    Foto: Pixabay

    Há humor, desporto e até crime. De olho nas tendências, as tecnológicas ganharam apetite pelos investimentos no mundo dos podcasts, que já dão muito aos ouvidos mais atentos.

    Não apareceram num piscar de olhos: há já largos anos que os podcasts são uma tendência, permitindo a quem os acompanha escolher que vozes e temas ouvir, onde e quando se quiser. É possível encontrar um podcast sobre praticamente qualquer tema e, ao longo dos últimos anos, num leque alargado de plataformas.

    Se os primeiros arrancaram na primeira metade dos anos 2000, mais recente tem sido a atenção dada pelas tecnológicas a uma indústria que tem gradualmente conquistado comunidades. No Reino Unido, por exemplo, na primavera de 2020, 18% dos adultos ouviam podcasts numa lógica semanal (dados da Radio Joint Audience Research). Nos Estados Unidos, a percentagem é maior: em 2020, 49% da população entre os 12 e os 34 anos acompanhava com regularidade um podcast.

    “Sem dúvida que as grandes tecnológicas perceberam que é um mercado que tem grande crescimento”, refere Márcio Barcelos, da Portcasts-Rede Portuguesa de Podcasts, que organiza o Podes, festival dedicado aos podcasts em Portugal.

    O Spotify tem vindo a fazer sérios investimentos na área: em 2019, o serviço de streaming comprou a plataforma de distribuição de podcasts Anchor e a Gimlet, uma produtora. No caso da Gimlet, terá pago 200 milhões de euros – o valor mais alto para uma empresa desta área. Para Márcio Barcelos, a lógica do Spotify é simples: “Estão a controlar o mercado”, quase como um “reinado que inclui a faca e o queijo na mão”. Daniel Ek, CEO do Spotify, disse na altura que a empresa tinha até 500 milhões de euros para investir na área, com o objetivo de tornar o serviço “na maior plataforma de áudio do mundo”.

    Sucederam-se investimentos para tornar podcasts de sucesso em exclusivos do serviço – garantir o podcast de Joe Rogan terá custado pelo menos 82 milhões de euros à empresa. O serviço também tem investido não em podcasts consolidados mas em personalidades: em 2019 assinou um contrato de exclusividade com o casal Obama e, já neste ano, com a cineasta Ava Duvernay.

    Mas nem só o Spotify está interessado em aquisições. No fim de 2020 foi a vez de a Amazon anunciar a compra da produtora de podcasts Wondery, por um montante não revelado, indicando que seria uma mais-valia para o serviço Amazon Music.

    No campo das suposições, fala-se também em movimentações da Apple e num possível modelo de subscrição de podcasts. “São movimentações que estão a acontecer de modo público, mas com muito pouca explicação”, reconhece Márcio Barcelos.

    “Ainda estamos um bocadinho para ver aquilo que motiva os grandes players.” Já sobre as movimentações da Apple, o responsável da Portcasts recorda que a empresa “foi pioneira no sistema de distribuição”, detendo “a base de dados onde todos íamos buscar os podcasts” numa fase inicial. “Está como que a reagir”, nota.

    E Portugal?
    Por cá, o primeiro podcast, BlitzKrieg Bop, nasceu em 2005. “A informação que temos é de que, fora os mercados mais fortes, estamos numa situação muito parecida ao resto da Europa”, diz Márcio Barcelos, que recorda o papel “incontornável” que as rádios tiveram enquanto “grandes pioneiros e promotores do meio de podcast” em Portugal, pela “lógica on demand para consumir rádio”.

    “Nos últimos anos houve uma grande aposta no crescimento de podcasts em Portugal”, especialmente a partir do momento em que começaram a surgir “projetos mais independentes”.

    Humor, entrevistas, desporto, particularmente futebol e algum comentário político são os géneros mais frequentes, numa “representação saudável”. No entanto, Portugal parece escapar à tendência internacional, onde os podcasts de true crime são dos mais ouvidos.

    “Não temos ainda na área do crime nada muito desenvolvido, mas já temos na área da investigação”, exemplificando com o caso do Fumaça. No crime, destaca o podcast Psicopatas Portugueses, de Joana Amaral Dias.

    Vendas de informática em Portugal subiram 46% no confinamento, acima da média europeia

    Pesquisa e YouTube ajudam Alphabet a atingir receitas de 57 mil milhões no final do ano

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    (Amy Osborne / AFP)

    No total do ano fiscal de 2020, a dona da Google atingiu receitas de 182,5 mil milhões de dólares. A área de negócio de pesquisa e a plataforma YouTube deram os maiores contributos para os resultados.

    No quarto trimestre, a Alphabet, empresa que detém a Google e a Google Cloud, viu as receitas subir 23% em termos homólogos, para um montante de 56,9 mil milhões de dólares (47,3 mil milhões de euros). Já no acumulado do ano, as receitas da tecnológica chegaram aos 182,5 mil milhões de dólares (151,8 mil milhões de euros).

    Já o lucro no quarto trimestre atingiu os 15,6 mil milhões de dólares (12,98 mil milhões de euros), acima dos 9,3 mil milhões de dólares registados no mesmo trimestre de 2019. No total do ano fiscal, o lucro aumentou para 41,2 mil milhões de dólares, mais 7 mil milhões de dólares face aos resultados de 2019.

    Os resultados da Alphabet dividem-se em três grandes áreas de negócio: Google Services, Google Cloud e Outras Apostas (Other Bets). No último trimestre do ano, a área de serviços, onde se inclui a área de pesquisa, gerou o maior montante de receitas, com 52,9 mil milhões de dólares. Nos últimos três meses de 2020, esta área representou mais de 92% das receitas totais.

    A área Other Bets, que tem habitualmente um comportamento mais modesto, viu as receitas subir no último trimestre, para 196 milhões de dólares. Ainda assim, no total do ano, foi registado um ligeiro decréscimo das receitas desta área, passando dos 659 milhões de dólares em 2019 para os 657 milhões em 2020.

    De acordo com o relatório da Alphabet, a área de pesquisa impulsionou o trimestre: nos últimos três meses do ano, a pesquisa gerou receitas de 31,9 mil milhões de dólares, um montante acima dos 27 mil milhões do mesmo período de 2019. Também as receitas do YouTube, a plataforma de vídeos da Google, subiram 46% no último trimestre, passando para os 6,88 mil milhões de dólares.

    No total, o segmento de publicidade rende receitas de 46,2 mil milhões de dólares à Alphabet.

    A 31 de dezembro, a tecnológica tinha 135 301 trabalhadores, um aumento face aos 118 899 empregados no final de 2019.

    Google Cloud com prejuízo

    Pela primeira vez, a Google revelou dados sobre o desempenho da Google Cloud, a área de negócio dedicada à computação em nuvem. Em 2020, esta área agravou os prejuízos, para 5,61 mil milhões de dólares. De acordo com a comunicação feita, os prejuízos da Google Cloud têm vindo a aumentar desde 2018, quando registava perdas de 4,3 mil milhões de dólares e de 4,6 mil milhões de dólares em 2019.

    A Google Cloud gerou receitas de 3,8 mil milhões de dólares no quarto trimestre e 13,1 mil milhões de dólares no total do ano.

    Cloud impulsiona resultados da Microsoft. Receitas sobem 17% para 43 mil milhões de dólares

    Jeff Bezos vai deixar a liderança executiva da Amazon. Lucros da empresa sobem 118%

    Amazon, Jeff Bezos
    Jeff Bezos, fundador e CEO da Amazon. EPA/MICHAEL REYNOLDS

    Gigante tecnológica Amazon irá passar a ser comandada pelo até agora presidente executivo da AWS (Amazon Web Services), Andy Jassy.

    A notícia é dada pela AFP e indica que Jeff Bezos, o fundador e líder da Amazon, irá deixar de ser o CEO da empresa já no terceiro trimestre do ano, pelo verão, deixando assim a liderança executiva, mas mantendo-se na empresa.

    O substituto de Bezos será Andy Jassy, o homem que lidera uma das áreas mais bem sucedidas (e com maior crescimento) dentro da Amazon, o serviço de cloud AWS (Amazon Web Services).

    Ao que tudo indica, Bezos vai assumir uma postura semelhante aquela que os fundadores da Google, Larry Page e Sergey Brin, tomaram em 2019 quando colocaram nas mãos de Sundar Pichai o comando executivo da empresa-mãe Alphabet, além do comando da Google.

    Sundar Pichai: de gestor de produto a dono do reino Alphabet e Google

    Ao 57 anos, Jeff Bezoes tem também, tal como Elon Musk, interesses no setor espacial. Fundou a Blue Origin em 2000 e nos últimos anos tem investido mais na empresa que espera que seja a primeira a ajudar a criar uma colónia humana na Lua. Em 2013 também comprou o jornal The Washington Post. Até há pouco tempo era considerado o homem mais rico do mundo, tendo sido ultrapassado por Musk já em 2021.

    Trimestre de recordes: 100 mil milhões em vendas

    A Amazon reportou entretanto um lucro de 7,2 mil milhões de dólares no quarto trimestre de 2020, uma subida de 118% (no mesmo período em 2019 tinha somado 3,3 mil milhões).

    Nas receitas também houve recordes no trimestre que apanhou o período de Natal, com a empresa de comércio eletrónico que tem cada vez mais negócio na cloud, a ter um aumento 44% do volume de negócios, para 125,56 mil milhões de dólares, não só bem acima das previsões como muito acima do anterior recordes de receitas – pela primeira vez ultrapassa os 100 mil milhões de dólares.

    Mais de 19 mil trabalhadores da Amazon testaram positivo para Covid-19

    Douyin, a versão chinesa do TikTok, processa Tencent por agir como monopólio

    ByteDance, TikTok
    Sede da ByteDance, dona do TikTok. (GREG BAKER / AFP)

    A Douyin, a versão chinesa da aplicação de vídeos curtos TikTok, avançou com uma queixa contra a gigante de serviços Tencent, indica a agência Reuters.

    De acordo com a agência, a Douyin, que também é detida pela ByteDance, formalizou a queixa num tribunal de Pequim, na China. Em causa está a acusação de que a Tencent adotou um comportamento monopolista, prejudicando o negócio da concorrência.

    Através da Douyin, a ByteDance terá pedido uma compensação de 13,94 milhões de dólares, cerca de 11,6 milhões de euros à conversão atual.

    A acusação indica ainda que a Tencent, o conglomerado que é dono de vários serviços, inclusive o WeChat, terá impedido os utilizadores de partilhar conteúdo da Douyin nas aplicações de mensagem. Segundo a queixa apresentada, este tipo de comportamento é proibido pela lei anti-monopólio do mercado chinês.

    A Douyin é a versão chinesa do TikTok, a aplicação de vídeos curtos que tem conquistado milhões de utilizadores um pouco por todo o mundo. Esta versão está apenas disponível para o mercado chinês – no resto do mundo a ByteDance disponibiliza a versão TikTok.

    De acordo com os números revelados em setembro de 2020, a Douyin contava com 600 milhões de utilizadores ativos diários em agosto do ano passado.

    Vulnerabilidade no TikTok terá deixado expostos dados de utilizadores

    Uber compra startup de entrega de bebidas alcoólicas Drizly por 1100 milhões de dólares

    Uber
    Uber chegou ao mercado português em julho de 2014. (JUSTIN SULLIVAN / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP)

    A Uber anunciou a aquisição da startup de entrega de bebidas alcoólicas Drizly, por um valor de 1 100 milhões de dólares, com o objetivo de responder à procura por álcool durante o confinamento.

    É a maior aquisição que a tecnológica vai fazer desde a compra da Postmates, no ano passado: a plataforma ofereceu 1 100 milhões de dólares (mais de 914 milhões de euros) para comprar a startup de entrega de bebidas alcoólicas Drizly.

    Em comunicado, a Uber indica que este montante será pago através de uma combinação de dinheiro e ações. A Drizly, criada em Boston, está atualmente em 1 400 cidades nos principais estados dos Estados Unidos. À semelhança daquilo que a Uber Eats faz com os restaurantes, a Drizly trabalha com uma variedade de pontos de venda, entregando uma seleção de cerveja, vinhos e bebidas espirituosas “com preços competitivos e transparentes”, salienta a Uber.

    O objetivo desta aquisição passará pela possibilidade de a plataforma tirar partido de um mercado em crescimento num momento em que os confinamentos impostos para conter a pandemia de Covid-19 estão a fazer crescer os serviços de entrega de álcool em casa. No caso da Drizly, a empresa registou uma subida de 400% nas vendas durante o mês de maio, coincidente com o período de confinamento mais rígido nos Estados Unidos, refere a Bloomberg. A empresa refere inclusive que este aumento de vendas se deveu não só ao aumento da frequência das encomendas mas também a maiores gastos feitos por compra.

    A Uber indica que, depois de concluída esta aquisição, a Drizly tornar-se-á uma subsidiária detida por completo pela tecnológica. “O marketplace da Drizly será eventualmente integrado na aplicação da Uber Eats, ao mesmo tempo em que continuará com uma aplicação” independente.

    Ao longo dos últimos meses, a área de transportes da Uber tem sido ofuscada pelo serviço de entregas de refeições Uber Eats. Só no terceiro trimestre de 2020 a operação de entregas viu as vendas crescer 125%. Por seu turno, a área de transportes tem vindo a cair, em consequência das restrições e confinamentos um pouco por todo o mundo.

    Em julho, a Uber gastou 2,65 mil milhões de dólares a comprar a Postmates, um serviço de entregas disponível nos Estados Unidos.

    Uber entra no mercado de entregas de supermercado com aquisição da Cornershop

    Bebés Proveta, Bebés Design: Do imaginário distópico de Aldous Huxley para a realidade – Parte II

    criança, recém-nascido, bebé
    Fonte: Pixabay

    No artigo anterior caminhámos do imaginário distópico de Aldous Huxley para a realidade dos bebés proveta, da edição de genes, dos bebés design e da suspeita de práticas eugénicas.

    Há que admitir que a tecnologia subjacente é neutra podendo ser utilizada para múltiplos fins, incluindo de utilidade pública, de acordo com determinação humana. Tanto assim que o Prémio Nobel da Química de 2020 foi atribuído a Doudna e a Charpentier que desenvolveram um método de edição do genoma, o CRISPR/Cas9.

    Segundo a Academia Sueca, o método de engenharia genética premiado permite “reescrever o código da vida” e promete vantagens ilimitadas para o futuro da humanidade.

    Engenharia genética e COVID-19

    Uma das vantagens emergiu, recentemente, no âmbito dos testes ao COVID-19.

    Os testes têm sido um factor chave na política de combate à propagação do vírus, com base no recurso generalizado ao sistema PCR. No entanto, a longa espera pelos resultados e a ausência de reagentes levaram muitos cientistas à “pesca” de alternativas. Foi nessa senda que foram criados, com sucesso, testes de diagnóstico rápido do COVID-19 com base na tecnologia CRISPR, testes esses que obtiveram a crucial bênção da FDA nos Estados Unidos (Nature News).

    Mais, o sistema CRISPR é visto como uma potencial arma terapêutica na luta contra futuras pandemias. Os avanços de hoje no seio da tecnologia CRISPR serão naturalmente benéficos nas próximas décadas.

    Engenharia genética e práticas eugénicas

    Mas paira sobre a engenharia genética a suspeita de práticas eugénicas, sendo que a possibilidade de direccionar a engenharia genética para o melhoramento humano obriga à reflexão sobre questões éticas fundamentais.

    A edição genética tem por base um diagnóstico de anomalias genéticas que podem ter efeitos na saúde física ou mental, oferecendo esperança no que toca à eliminação de condições genéticas consideradas indesejáveis, como a doença de Huntington. Estamos aqui perante a chamada eugenia negativa, sob a forma da rejeição preventiva de determinadas características genéticas.

    Já a eugenia positiva inclui o estímulo de certos traços genéticos, almejando à promoção do aperfeiçoamento genético em geral e, em última instância à criação do super-humano – substancialmente melhorado em termos físicos e intelectuais.

    O melhoramento humano já não é tema de distopias distantes.

    Engenharia genética: preocupações éticas

    A edição genética despoleta várias questões éticas entre as quais as seguintes.

    Há quem tema ser impossível obter consentimento informado, esclarecido e livre para a edição genética porque os pacientes são embriões, não podendo fornecer tal consentimento, embora também haja quem afirme que a decisão é dos pais, que já tomam decisões semelhantes no âmbito da fertilização in vitro. Mas há quem note que não sendo conhecidos, por ora, os riscos, o consentimento em causa não pode nunca ser “informado e esclarecido”.

    Subsiste também a preocupação de que o recurso à edição genética dependa da capacidade financeira do indivíduo, aumentando disparidades no acesso aos cuidados de saúde. Quem poderá ter acesso aos benefícios advindos da edição genética?

    Pior, levada ao extremo a edição genética pode, dizem, criar classes de indivíduos definidas pela qualidade de seu genoma. A partir de que momento é que a edição genética deixa de ser meramente terapêutica e se converte numa ferramenta ao serviço da eugenia, criando o ser humano ideal?

    Por último, tal como no contexto da fertilização in vitro surgem objecções de foro moral e religioso ao uso de embriões humanos, não apenas devido ao sacrifício de embriões mas também porque a configuração do ADN do indivíduo caberá a Deus e não ao ser humano.

    Bem ciente de tudo isto, a Organização Mundial da Saúde encontra-se a examinar os desafios científicos, éticos, sociais e jurídicos associados à edição do Genoma Humano, com o objectivo de produzir recomendações em sede de limites e de mecanismos de fiscalização e assim gerar um padrão normativo internacional que tanta falta faz.

    He Jiankui, que em 2018 recorreu à técnica CRISPR para editar em laboratório, in vitro, o genoma de dois embriões trocou os Estados Unidos pela China porque a edição genética não é permitida em tal país, enquanto a China proíbe a clonagem humana mas não a edição genética. Tendo mudado de país, montado laboratório na cidade de Shenzhen e estando, ao que parece, convicto de que actuava dentro dos limites da lei local, He Jiankui acabou por ser condenado a três anos de prisão por um tribunal chinês pela ilícita manipulação genética de embriões com fins reprodutivos (segundo a agência estatal Xinhua).

    Conclusão

    Não recomendo o encerramento de portas do saber e do conhecimento, mas a eugenia contemporânea e a promessa do super-humano (invocando movimentos transhumanistas e pós-humanistas) inquietam-me e exigem, penso, o estabelecimento de fronteiras éticas e jurídicas, imperativas, claras e globais, no campo da edição genética.

    E termino com um excerto de Carlos Drummond de Andrade que, em 1967, na sua crónica em versos, “O Novo Homem” examinou atentamente a ideia do ser humano fabricado à la carte, escolhido em catálogo:

    “O homem será feito em laboratório muito mais perfeito do que no antigório (…) Nele, tudo exacto, medido, bem posto: o justo formato, o standard do rosto. (…) Quer um sábio? Peça. Ministro? Encomende. Uma ficha impressa a todos atende. Perdão: acabou-se época dos pais (…) Não chame de filho este ser diverso que pisa o ladrilho de outro universo (…) Liberto da herança de sangue ou de afecto, desconhece a aliança de avô com seu neto. Pai: macromolécula; mãe: tubo de ensaio, e, per omnia secula, livre, papagaio, sem memória e sexo, feliz, por que não? Pois rompeu o nexo da velha Criação, eis que o homem feito em laboratório sem qualquer defeito como no antigório, acabou com o Homem. Bem feito.”

    Patricia Akester é Fundadora do Gabinete de Propriedade Intelectual (www.gpi-ipo.com)

    Nota: A autora não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.

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